segunda-feira, 4 de junho de 2012

Trânsito Livre

Estamos falando dos anos 1997 e 1998, no começo da melhor parte do Canal 21 e sua programação. A Denise Gomes conseguiu algumas vitórias, mas morreu na praia – não por sua culpa. Trabalhar na Bandeirantes  (hoje Band) era difícil,  e ainda deve ser, mas a própria Band conseguiu algumas vitórias e posso dizer que o Canal 21 mostrou em sua composição com a City TV canadense como usar a mesma plataforma para diversas TV em um mesmo lugar. Competência total do Johnny Saad e de relatórios da equipe que foi mapear as emissoras do grupo Davison, a Cyti TV: o modelo de TV Local (o 21), CP 24 horas (a Band News), além de BandSport, Terra Viva e a grandeza que se tornou a multimídia  Rádio  e TV Bandeirantes.

Na época já fazíamos convergência. Transição midiática – e nem o nome era esse ainda. Lembro-me de um laptop Apple, recebimento de um cliente, que ficou na minha sala por quatro meses.  Sem querer, um dia, o Luciano Cury, nosso diretor de Design e Criação pegou o laptop para me ajudar e descobriu que aquele Macintosh poderia enviar imagens que seriam recebidas em cinco minutos. Estava criado o SP On-line no jornalismo.
O José Occhiuso e o Ricardo Kotscho aprovaram de primeira. Depois, vieram no SP On-line para os comerciais, que tinham o mesmo modelo do jornalismo, com flashes diários das salas dos clientes. Conforme vou contando as histórias, vou falando um pouco sobre as aventuras do 21, canal que na minha opinião foi a única coisa legal que se fez nos últimos dez anos de TV, os críticos que me xinguem.
A história começa agora e trata de um projeto com o Scaringela – ele mesmo, o do trânsito de São Paulo – e um profissional da área comercial, o Zeca Pinto, superconhecido do Rio Grande do Sul a São Paulo, ele pode dizer que tem repercussão no Norte e Nordeste (mas acho que acabou conhecendo alguns gaúchos no DF da época ainda do ex do Jânio... rsrsrsrs).
O Scaringela já havia me levado o Trânsito Livre, nome que o Marcelo Capassi inventou na hora, pois o projeto não tinha nome. Na verdade, tinha uma vontade imensa e uma boa ideia do Homem do Trânsito. O resto, o Marcelo do marketing estava me trazendo, e como já havia visto uns dois anos atrás era a cara do 21. No meio da reunião, toca o telefone e a Tereza  me diz que o Zeca tinha tido um infarto. Nem contei para os outros. Em reunião boa não se conta coisa ruim.
Eu havia tomado Xenical – lembra-se do remédio que emagrecia, mas se desse um punzinho, ferrava –  e tinha dado alguns punzinhos minutos depois de ter ligado para o Juca Silveira, que havia entrado no lugar da Competente Denise Gomes. O projeto ia de vento em popa, mas eu não mais podia ir à sala do chefe. O Zeca com infarto e eu preocupado com a cadeira, meu terno, a merda que eu teria que fazer para ninguém notar (pelo menos, naquele dia, pois a cadeira era vermelha e tive que trocar). Ah, a maior preocupação, o infarto do Zeca, não por ele, por mim! O Gaúcho eu sabia que ia sobreviver, mas os dois mídias que me ligaram para saber do Zeca já tinham me perguntado se eu não estava batendo forte demais no menino (o menino é dez anos mais velho que eu). Minha fama era forte, o Zeca tinha que sobreviver para metade dos gaúchos não me linchar. O Marco Aurélio, na época na Nazca, me ligou bravo. “Gordinho matou o velho”, demos risadas, mas fiquei uns dias sem dormir, uns dias por estas palavras.
Ah, fui o último a sair naquele dia! Era comum, mas o estado da cadeira ia me denunciar no outro dia. Minha sorte é que a Claudia Alcântara, minha amiga diretora administrativa, me salvaria. Demorei uns três a quatro dias para contar a ela, mesmo saindo com os diretores várias vezes por semana para almoçar.
O programa foi de vento em poupa. Trouxemos o Osvaldo Oliva da Gazeta, que dirigiu lá o “Gincana Estrela” (outra história).  O único problema: começava às 5h e ia até às 7h, hoje seria um show. Qual era o problema? O Comercial e eu não faturávamos nada na hora, mas ele me alavancava das 7h em diante. O Juca entendia, mas o financeiro queria o dinheiro do horário. Mas conseguimos levar esse programa uns dois anos e pouco no ar. No fim, o Scaringela, mal sabendo que não tínhamos dinheiro para ele, estava ficando bravo – o financeiro também –, mas quando sai de lá ele ainda estava de pé, ou melhor, no ar.
O Zeca ainda ficou uns trinta dias em casa. Sorte minha que não morreu! O Zeca sempre foi bom de papo, um dos poucos a vender o canal – o Márcio Loducca e o Marcelo Capassi também vendiam bem. Quando mandei um e-mail ao Zeca, dizendo que ia contar essa história, ele me mandou um e-mail dizendo que eu era um lord com ele, e que o canal era difícil de vender, mas vendíamos. Imagina se ele morre (estes dias esteve mal de novo; pelo menos, tenho prova de comunicação dele... rsrsrs. Desculpa Gaúcho, perco o amigo, mas aqui fica engraçado!).
Com aquela correria toda e a baixa resistência do Xenical, ainda tínhamos um acordo com o secretário do Esporte da Prefeitura de São Paulo com o Cássio Calazans, hoje na Record, que estava me deixando louco. Não tinha estrutura de logística para o evento. Eu mesmo levava as bandeirolas e os banners do 21 nos eventos. Comprei uma Ranger cabine dupla porque tinha uma caçamba. Ah, um dia ainda levei uma gozação do Johnny Saad, que me perguntou se eu era fazendeiro. Imagina, só tinha um apartamento em Moema!
Uns dez dias depois do Scaringela, que gerou um trabalho de trinta dias para pôr no ar, teve uma corrida de bike da qual tínhamos a exclusividade e os patrocinadores, poucos. Eu na Ranger, na chuva, em frente ao Detran, tinha esquecido a carteira, mas tinha os crachás . Eu em cima do viaduto, colocando os banners e as bandeirolas, um guarda de trânsito me chama e pede os documentos. Rapidamente, mostrei o crachá, e ele nem tchum. Falei para ele que estávamos transmitindo a corrida, que a transmissão já tinha começado. Ele não acreditou. Eu tinha uma TV daquelas Cassio e fui mostrar. Quando sintonizei no UHF 21, não vi os flashes. Liguei para o jornalismo e não sabiam de nada. Aí, peguei o celular – aquela coisa Motorola que não pegava e era um tijolo – e liguei na frente do guarda para o Occhiuso, que me disse que os flashes estavam no ar. Eu disse que não. O guarda, puto, achou que era papo meu. Eu tentando sozinho ver se tinha alguém da Secretaria, mas no viaduto em frente ao Detran, só eu e o mal-humorado guarda. A equipe estava gravando lá no aeroporto, as meninas da redação não viram a ordem e eu na chuva e quase guinchado.
Aí, o super José Occhiuso me salva. Põe a primeira chamada – que deveria ir às 8h, às 10h30min. Mas nem o guarda, nem a Prefeitura, nem os patrocinadores viram nada. E eu  ainda fui no carro do Detran até o aeroporto, com a av. 23 de Maio fechada, com o banner do 21 no carro do Detran. Que lindo o quarto poder! (Meu carro ficou em cima do viaduto do Detran.)
A merda é que peguei uma pneumonia daquelas! Fiquei amigo do supervisor, que me indicou uns amigos no Detran que me ajudaram sempre durante minha estada no 21.


O fim desta história ficou bem legal, salvo a pneumonia. As moças da redação viraram brodinhas. Fizemos ainda uns quatro ou cinco passeios ciclísticos – fomos os primeiros. E eu nunca mais tive multas naquela Ranger e o Johnny tinha razão. Eu nem sabia dirigir direito, por causa do stress daqueles tempos acabei vendendo a Ford ao Cesar de Almeida (que viabilizava na operações nossas ideias), pois achava que ela estava me dando umas dores no braço.


Publicitário sem estrutura é fogo. Tem que inventar e ter em seu CV uma linha escrita: “Tenho muita sorte sempre”. Ah, e o Zeca Pinto esta vivo até hoje, graças a Deus!