segunda-feira, 23 de julho de 2012

Gotas no break da garagem.


Prospectar é o que todos que trabalham em vendas de publicidade fazem todos os dias em suas vidas , olhar aquilo que está exposto, aquilo que ninguém enxerga – nós da publicidade temos que ver. Nossos gerentes, diretores e nós próprios estamos o tempo todo atentos aos concorrentes, uma tortura que só percebemos se um dia sairmos dessa. Ou, se nunca sairmos, até na aposentadoria acho que este negócio de ser full mkt nos fará trabalhar como se estivéssemos em veículos de comunicação na área de vendas ou mkt. É um sem fim de tentar entender todos os segmentos e todos os produtos e serviços que estão no mercado ou, ainda melhor, os que estão por vir ao mercado (rsrsrs...).

Um dos profissionais que me ensinaram a fazer prospecção foi o Walter Nise, no tempo em que eu era seu assistente, em 1981. Quando a coisa pegava, íamos para o Sé Supermercados, ali na Alameda Santos, em frente ao Conjunto Nacional, e revirávamos as prateleiras para ver o que de novo existia ali para, com o aval e a grife  TV Globo, conseguir uma reunião e tentar trazer um cliente novo para veiculação .

Esta história é sobre um cliente que chegou num desses momentos, mas que não veio por intermédio de nossas visitas ao supermercado. O Walter, numa dessas prospecções, chegou a um cliente que eram as Gotas de Pinho Alabarda – um saquinho de balas redondas com sabor de pinho, bem tradicional no mercado.

A produtora de um amigo nosso que está na luta até hoje fez o filme com uma modelo que, por coincidência, tinha estudado na minha sala de aula. O dono da produtora estudava na minha faculdade e um dia, na frente dele, minha primeira mulher, sem saber de quem se tratava, perguntou se o quebradinho que a modelo tinha no dente da frente tinha sido causado pelas balas de pinho. Quase perdi o amigo – se não perdi naquela época, vou, com certeza, perder aqui, apesar de não o ter citado (rsrsrs...).

Mas o melhor da história não é esse episódio e sim o dia seguinte da visita do cliente e do fechamento das reservas.

Quando saí para ir à faculdade, o Walter e o cliente ainda ficaram consultando os espaços e fazendo os mapas reservas. Éramos já informatizados, e quando isso acontecia o contato  deixava na minha mesa os mapas para que eu os processasse logo no outro dia, no primeiro horário .

Quando cheguei, os mapas não estavam em cima da mesa e achei que algo estava errado. Liguei para a casa do Waltinho, como o chamava, e perguntei sobre os mapas. Ele me disse que estavam em cima da mesa; vasculhei tudo e nada! Liguei novamente e ele me disse que achava que estavam em cima da mesa, na antessala.  Aí, já era, pois as faxineiras já tinham jogado os mapas no lixo.

Como ainda era cedo, liguei para o Serviços Gerais e perguntei se o lixeiro havia passado. “Ainda não”, foi a resposta. E lá fui eu para a garagem da Alameda Santos procurar naquele monte de sacos de lixos de papéis – é, o computador já estava operando, mas a quantidade de papel era cada vez maior!

Para meu infortúnio, chegou o superintendente, o Dionísio Poli, que me viu no meio daqueles sacos lixo e me perguntou o que eu estava fazendo ali. Para não entregar ninguém, falei que havia perdido umas anotações. Ele me mandou sair dali, o que fiz rapidamente. Mas logo que ele saiu, voltei e achei a papelada – por sorte minha e do Waltinho.

Depois dessa, ainda tomei outra bronca do seu Dionísio por estar remexendo o lixo. A mesma história, só que desta vez eram mapas da Alpargatas cujas reservas o Edson Shinohara havia feito com o Waltinho.

Foram poucas as oportunidades que tive com o homem que mandava no comercial na Globo da Alameda Santos. E em duas delas parecia que estava pegando lixo para reciclar, quando, na real, estava salvando clientes para faturarmos. Nunca perdemos nenhum mapa, apesar do computador na época ser um bicho quase de sete cabeças e do Waltinho nunca lembrar onde estavam as reservas.