Era 1998, um sábado pela manhã, toca meu telefone às 7 horas
e do outro lado da linha o Ricardo Kostscho, nosso diretor de Jornalismo, avisa
que pegaram o assassino em série que atormentava São Paulo. “Vamos colocar
nossa força toda neste caso e nosso Canal 21 UHF vai ficar o dia todo roendo
este assunto. Tem como você vir também para a emissora? Vamos cortar os breaks
e com você aqui é mais seguro”, disse ele.
É bom lembrar que até aquele momento não dávamos ponto algum
no Ibope. Tínhamos comprado um estudo e trocamos pelo tal de Saturno, na época
recém-lançado, que já mudou de nome diversas vezes e hoje se chama Mídia Word
ou Word Midia. Ele começou as medições
da TV a cabo e UHF no Brasil e, me lembro bem, quase perdi a amizade com o
Flavio Ferrari, na época diretor do Ibope, de tanto que discutimos, mas, no
final, me dei bem acabei ficando com os dois estudos, uma regalia oferecida
pelo Flavio e equipe.
Mas vamos lá! A imprensa escrita, no sábado, já saiu com
diversas páginas,e com as descobertas de onde ele desovava suas reféns – no parque, perto ali da Imigrantes .
Quando todos pensam na autoridade jornalística Ricardo Kostscho,
jamais imaginam que esse gênero grotesco de jornalismo foi criado pelo grande e
cheio de ideias. Já estive com o Ricardo em congressos e eventos sobre
comunicação e ele dá autografo como artista da Globo, meu amigo (rsrsrs...)!
A cobertura do Canal 21 sobre o serial killer foi um sucesso.
A adrenalina junto ao Ibope foi maior ainda. Pela primeira e única vez vi o people
meter na linha do 21 pontuando o dia todo, e, ainda mais, chegamos por diversas
vezes a 4 pontos de audiência, uma façanha!
A partir dali, descobri as dificuldades de um canal em UHF
pontuar no Ibope – e na época só existiam nós e a MTV. Hoje, são dezenas deles
em qualquer cidade .
Nenhum UHF mais pontua. Além das VHFs, temos centenas de
canais a cabo e a internet, que já levou muita de nossa audiência de TV.
Naquele dia exibimos um break de hora em hora e a astúcia e
oportunismo do nosso jornalismo demonstraram para todos nós as dificuldades que
teríamos pela frente. Demos um show e só chegamos algumas vezes a 4 pontos.
Melhor de tudo isso é falar do Ricardo, que inventou esse
sensacionalismo em nosso telejornalismo, ou somente falar da equipe que
conduziu aquele momento em um fato histórico de um canal UHF, pontuando como
uma VHF, ou quase.
Poucos nos viram naquela época o boom dos aparelhos com UHF, já embutidos na TV, que só ocorreu em
2000, quando o Brasil vendeu pela primeira vez 10 milhões de aparelhos em um
ano.
Há tempos não vejo o Kostscho, e sempre o incluo como uma
personalidade brasileira e um criativo mor no jornalismo neste país.
Hoje vejo sempre na TV diversos focas apresentadores, que
começaram ali e hoje estão nos grandes canais, e posso dizer sem cerimônia que
grande escola foi aquela UHF em minha vida!