segunda-feira, 28 de maio de 2012

Futebol na TV Globo SP sempre foi coisa séria.


No final de 1979, fui contratado pela TV Globo São Paulo pelo André Barroso, novo gerente de Opec – Operações Comerciais, que substituía o Fernando D’Avila, e estava implantando as reservas dos comerciais por computadores da CMA – empresa que terceirizava os serviços de informática .Todo o processo era feito manualmente e estávamos ali para tirar o trabalho daqueles que achavam o computador um bicho de sete cabeças. Começava ali minha convergência cognitiva na esfera digital, mas não tínhamos a menor ideia sobre onde iríamos chegar.

Diariamente bombardeados pela antiga equipe sobre os efeitos do computador na vida de todos, criávamos paralelamente uma nova forma de controlar os dados de reservas, checking, falhas, financeiros da já líder de audiência do país.

Os novos contratados, o Galdino (se dizia filho de uma famosa combatente do regime militar), o Ugo Santiago, hoje diretor da Globo, e eu,  jovens e cheios de vontade de aprender e trabalhar, dávamos a vida por aquilo que acreditávamos ser o futuro e nem ligávamos para as falácias dos antigos funcionários da era manual. Lembro-me muito do supervisor que alimentava as fofocas: o Marcos Wilson, grande conquistador das garotas da época, Bozó que vivia falando que se o encontrássemos abraçado a mulher feia, podíamos apartar que era briga. Um dia, depois de anos, parei minha Brasília na porta do parque Trianon e o encontrei abraçado com a mulher mais feia que já havia visto, e gritei: “Vou descer e apartar!”. Perdi o amigo, mas não perdi a frase.

Não posso me esquecer da equipe de suporte de informática da época, que era só de mulheres lindas e cheias de amor para dar. Só não me lembro do nome delas e, por felicidade, comandadas pelo Celso Colli, o primeiro profissional que vi programando um computador.

Em pouco mais de seis meses implantamos as reservas pelo computador. O Marcos Wilson foi mandado embora e todos os outros foram adaptados a suas novas funções. O departamento em vez de encolher dobrou em poucos meses e nós todos fomos sendo promovidos e assumindo cargos dentro da nova estruturação da gerência de Opec.

A Globo São Paulo era divertida, mas com muito trabalho e competitividade. Não era por menos, estávamos na emissora que se preparava para o ano 2000, na época, até no ar com sua campanha SP 2000. Isso significava cursos, conhecimento, network e muita concorrência interna, que faz parte do meu conto.

O RH (Recursos Humanos) organizava um campeonato de futebol de salão nas quadras do Sesc, superconcorrido. Todos os departamentos da Globo SP tinham times e alguns muito competitivos, como do José Carlos Peleias, gerente do Checking, que tinha em sua equipe o Medina e o Silvestre, da Seleção Brasileira, entre outros craques, como o José Eduardo Salerno, o Bomba, que tinha esse apelido por ser explosivo e seu chute, forte e matador .No departamento do Peleias ninguém precisava entender de publicidade –  futebol era o  requisito básico para trabalhar no departamento de Checking da emissora paulista. O Peleias, com bom mineiro, tinha o uniforme de seu time, o Atlético Mineiro, impecável e completo, que fazia seus adversários tremer na base. E com aquele time cheio de craques, todos tinham muitas dificuldades em vencê-lo. Salvo um time da Praça Marechal Hermes, onde ficava a produção da Globo SP, ninguém   fazia frente àquele timão do Checking.

O comercial estava crescendo, já era um prédio na Alameda Santos, ao lado do prédio da Sabesp, e tinha um português, o Sérgio Fernandez, como responsável pelos serviços gerais. Ele começou como garçom nas Organizações Vitor Costa, a emissora em São Paulo comprada pela Globo. Sua histórias do inicio da Globo com o Walter Clark , o Buzzoni,  entre tantos outros, eram de deliciar os novos pretensores desta vida cheia de emoções de uma emissora de TV.

O Sergião, como era chamado, montou um time bem forte do qual eu fazia parte (sempre fui um craque... rsrsrsrs).  Estávamos treinando uns seis meses antes do inicio do campeonato interno e escutando as histórias divertidas do Sergião. Até hoje, o faturamento de muitas emissoras é chamado de basquete, sabe por quê? Na mesa do Walter Clark havia uma cestinha na qual os contatos colocavam as PIs (Pedidos de Inserção ) dos clientes e agências de publicidade. Cada PI que chegava era arremessada na cesta --  a prática em pouco tempo  passou a ser chamada de basquete. Dizia o Sergião que foi o próprio Walter que inventou o nome.

Mas vamos voltar à história do futebol. Acabara de chegar o comunicado do RH sobre as inscrições e o campeonato começaria em poucos dias.

Nas primeiras partidas, tudo lindo. Ganhamos as três primeiras de goleada e nossa quarta partida seria com o poderoso Atlético Mineiro, ou melhor, o time do Peleias. Foi uma semana cheia de intrigas. Apesar do Checking ficar em outro prédio, a guerra estava declarada. Insinuações de lá, insinuações de cá, até o dia do jogo.

Nosso time se chamava Globo Star; nossa tática era que o nosso maior adversário também deveria tremer na base.

E o jogo tão esperado começou. Dez minutos, nenhum gol, quando o Miltinho, com um passe meu, fez o primeiro. Vibramos! A torcida viu na gente um adversário capaz, mas antes de  terminar o primeiro tempo já estávamos perdendo de 2 a 1. Aquilo na cabeça do nosso time foi uma enxurrada. O técnico Sergião trocou dois de nós, incluindo a mim, e desmanchou nosso esquema. Perdemos de 11 a 2. Brigamos entre nós mesmos, e para mim foi o último jogo no Globo Star.

O Globo Star se classificou para a final, e adivinhe com quem? Com o Atlético Mineiro. Eu fora desde a fase de classificação, nem queria saber do campeonato.

A final seria num domingo.  Na véspera, sai com o Ugo Santiago e combinamos de trabalhar no domingo, pois estávamos cheios de reservas e o sistema funcionava mais rapidamente que nos dias úteis, com todos trabalhando ao mesmo tempo.

Marcamos para chegar ao escritório às 12h. Chegamos no horário. O Ugo digitava e eu montava as planilhas para digitação manualmente. Ele, mais rápido que eu, lá pelas 16h resolveu tirar uma soneca debaixo da mesa dos contatos, que era tripla. Eu, que sempre bebi menos que ele, continuei na toada manual de preenchimento. Só nós dois no domingo e o porteiro no térreo até que, o Ugo dormindo, abre-se a porta da sala e eu, branco, cumprimentei: “Boa tarde, Sr. Athaide!”.   Era o diretor nacional de Opec, chefe do chefe do nosso chefe, e o Ugo dormindo debaixo da mesa. Como ele era muito poderoso, não abriu a porta inteira e não viu o Ugo Santiago deitado no carpete, debaixo das mesas. Eu tremi e gaguejei, mas o Antonio Athaide nem percebeu. Imagine, ser mandado embora por estar trabalhando no domingo, ou melhor, um de nós dormindo no trabalho!

Mas a história não termina aí. Era o dia da final do campeonato nas quadras do Sesc. O Atlético fez 1 a 0 no Globo Star e o tempo fechou na quadra. Virou uma briga sem tamanho. Contaram-me que a torcida era toda do Globo Star. Os torcedores fecharam o portão da quadra e o pau comeu. Na segunda-feira, diversos machucados, enfaixados e advertidos. Minha sorte por não ter perdido o emprego naquele domingo foi dupla: se estivesse no jogo, estaria na briga; trabalhando, quase fui flagrado dormindo, pois quando o Ugo acordasse eu iria dormir um pouco também.

Continuei muito amigo do Sergião. Fiquei muito triste quando a Globo o mandou embora, poucos anos antes de sua aposentadoria integral. Eu mesmo o contratei na revista Imprensa. Saí antes dele, e há uns dois anos perdi o contato.

Escutei muitas histórias e outras vivi com o português. Dedico esta história a ele, que me ensinou as loucuras dos bastidores de uma TV. Mesmo sendo o responsável pelos serviços gerais, sabia muito sobre os assuntos internos do inicio da história da, até hoje, campeã de audiência.