quarta-feira, 25 de março de 2020

Rolo compressor


Às vezes penso no tempo de trabalho em alta performance como diretor de publicidade e comercial de emissoras de TV e até dono que fui em Salvador, na TV Salvador. Foram perto de 21 anos como diretor que fizeram bem e mal para meu ego e estado emocional.
“Sem esquecer do aprendizado na agencia de publicidade DPZ como comprador de mídia do Banco Itaú, no ainda poderoso jornal do Brasil e nas revistas Imprensa e as revistas da editora Globo, onde criar projetos por anos fez a diferença para toda uma vida. “
Os melhores momentos eram os holerites e as notas fiscais dos fins de mês que faziam a diferença em relação aos dias de nervoso excessivo, quando chegar em casa às 22h era pouco, parar de tremer lá pela 1h da manhã. Nessa época, caía na cama e nem me lembrava do que sonhava, tamanha adrenalina.
O troca-troca de emissora me fez vítima de estresses doentios e de alegrias posso dizer também doentias. Saía de um emprego e a imprensa especializada publicava algo a meu respeito e, em duas a três semanas, publicava de novo para onde eu já sabia desde a outra matéria que estava indo.
O burburinho de quanto ganharia nas rádios corredores das agências de publicidade e da concorrência também agitavam minha serotonina, se é que pode algo assim nos deixar ansioso e com satisfação. Era a competição, o poder de trabalhar no topo e ser invejado por muitos.
Parece hoje coisa de louco, mas não é. Quando se está na linha de frente, a coisa aparenta ser gostosa e pouco importa o que naquela hora estão pensando sobre o grosseirismo dos fatos.Costumo dizer que tive síndrome de Deus e só percebi tempos depois.
Usei um termo durante muito tempo: “Nenhum mercado ajuda pobre”. Você no topo ganha whisky 18 anos, cestas de natal, canetas Mont Blanc. Se está fora, nem um telefonema.
Lembro das confusões monstros de minha vida profissional, largava tudo, entrava numa loja e comprava seis pares de terno, um carro novo, um ar-condicionado portátil, que na época custava uma fortuna. Tudo isso para acalmar minha ansiedade, acalmar o egocentrismo do cargo.
Minha família sofreu com minha falta constante em jogos dos filhos, apresentações de balé e feiras de ciência e se divertiu muito nas viagens em belos hotéis e resorts maravilhosos, mundo afora.
Foram tempos de conhecer artistas, ídolos e ditar moda naquele mundo doido e cheio de criatividade.
Os vendedores que trabalharam comigo ganhavam bem, trabalhavam muito e psicologicamente como eu sofriam um bocado.
Vejam os atletas de seleção, são massacrados nos treinamentos e na hora do jogo levam broncas enormes do técnico e até sem sentido na hora que erram. O mundo corporativo na minha época era assim.
Fico às vezes pensando se não exagerei na dose, chamava nosso método de Tupperware e nossos comportamentos de broncos. Tínhamos que faturar, inventar e o cliente precisava ter resultado para continuar.
Um dos meus superiores dizia que tinha meio milhão de dólares que andava atrás de mim. Já para mim, o método e a disciplina eram meus melhores requisitos.
No meio desta pandemia, lembrar, pôr no papel (tela de computador) alivia o nervoso e mostra o quão duro foram os anos de reinado de alguém que, quando criança, sonhava em ter um bom carro.
São Paulo/Belo Horizonte/Salvador, 1989-201