quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Ligar para o caneta


No auge de minha carreira profissional tive um stress monstro, fiquei tão fraco que de cara veio uma pneumonia, fraqueza geral, perdi as forças. Tentei alopata, homeopata e no fim quem me devolveu as forças foi uma exotérica, via cristais.
Quando melhorei, fui chamado pela Denise Gomes por indicação do Jonhy Saad, dono da rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, para trabalhar no Canal 21, totalmente voltado para São Paulo, nos moldes City TV de Toronto.
Antes de assumir, pedi umas férias na Gazeta (última vez que trabalhei na casa) e fui passar três semanas na Praia do Forte, na Bahia, com a família – nem tinha ideia de que um dia moraria em Salvador.
Fomos para o ecoresort do alemão, com comida maravilhosa e serviços bem baianos. Lembro-me da primeira vez que fomos, quando chegamos, os meninos, ainda pequenos, queriam piscina e fomos os primeiros a chegar a ela. Demorou um bocado para vir uma garçonete, que anotou de cabeça os pedidos de suco de laranja. Ela demorou uma infinidade, largou a bandeja e saiu rápido. Fomos tomar e era de maracujá. A garçonete demorou outro monte e, quando chegou, falamos da troca. Ela pegou o copo deu um gole e disse: “Tem importância, é da mesma cor, dá pra tomar”.
Ainda havia uns acertos com o Jonhy e deixei com minha secretária, Tereza, onde estava. Certo dia, estou na piscina e passa um funcionário com uma plaquinha: “Sr. Hélcio, ligar para o Jonhy Saad”.
Imaginem a glória, rsrs, estar ali no chique danado, com CEOs, diretores executivos e alguns amigos. Arrumei de passar outras duas vezes, só que essas eram da minha cabeça maquiavélica.
Foram 21 dias maravilhosos, engordamos um monte e voltamos descansados para uma das maiores dificuldades que enfrentei na carreira: um canal local, numa época de início da internet global, numa empresa cheia de vícios e parentes.

São Paulo-Praia do Forte, 1996/1997.