sábado, 22 de setembro de 2012

Ou lia mão ou vendia televisão- em Salvador


Em 2002, fui convidado para montar uma operação em Salvador com a Rede Bahia, afiliada da Globo  com a TV Bahia. O convite foi para um canal em UHF, a TV Salvador, que na época não tinha o menor sucesso comercial e de audiência.
Imagine, quando fui ver no mercado (rua) como era a opinião dos varejistas sobre a TV, de dez visitados, nove me diziam que a TV não existia e que era um golpe de paulista!
E fomos para lá ver como seriam as coisas. Na verdade, o que eles queriam era uma sociedade numa produção de pequenos clientes, pois os grandes ainda não viam o UHF com bons olhos. Acabamos fechando uma sociedade em nove horas de operação diária e as outras nove com programação local, produzida para a TV Bahia, que era reprisada na TV Salvador. Até chegarmos a fazer a gestão das dezoito horas diárias da TV.
Tivemos muita dificuldade até chegar ao fechamento, pois os custos eram muito altos e, quando já achávamos que não aconteceria, fechamos uma permuta com passagens aéreas e viabilizamos o fechamento do contrato.
Eu, como bom exotérico, achei que haveria algo do destino e, já na primeira ida para entrevistar um batalhão de possíveis vendedores, produtores e apresentadores, conheci no avião uma senhora benzedeira que estava se mudando de São Bernardo (SP) para Barreira (BA), de mala e cuia com a família para montar uma pousada. Naqueles papos de avião, me disse para procurar alguém em Salvador que pudesse me dar um panorama astral do porquê estava começando uma jornada em Salvador.
O RH da Rede Bahia, me ajudando, montou uma série de entrevistas com mais de trezentas pessoas. Fiquei quatro dias sem pôr o pé para fora do hotel Othon, do quarto para duas salas no térreo e ao quarto novamente. Eu não conhecia ninguém em Salvador e um amigo, o Luiz Carlos Foz, me indicou uma paulista que em um dos dias foi almoçar comigo e acabou sendo contratada para a produção, a Rita.
Imagine o desgaste que foi! Sozinho, passava um vídeo sobre o que seria nosso projeto para umas quarenta pessoas e contava as condições de contratação. Depois, quem tivesse interesse ficava para uma entrevista pessoal. Cheguei a São Paulo doente, uma loucura! O espiritual na Bahia é sem igual, de dor de barriga a mandingas mil, só morando lá para entender o estado de espírito dos baianos.
Na tardinha do terceiro dia me liga a tal da Rita e me fala de uma amiga dela – que também tinha uma filha hiperativa, sobre quem conversamos no almoço –, que era vidente, morava há anos na Itália e estava de passagens por Salvador. Seu sucesso, me disse a Rita, era enorme como vidente, tanto em Salvador como na Itália.
Eu que já havia no avião ficado interessado, naquela hora liguei para a vidente e marquei um horário para a noite daquele mesmo dia.
A Lúcia me atendeu como todos os videntes, leu os búzios, o tarô e bem no finalzinho da consulta tirou uma carta, dizendo que era um Mago da Lua. Eu perguntei o que era aquilo e ela me disse que eu deveria fazer algo exotérico. E não é que já fazia? Eu lia mão.
Quando sai do Canal 21, fui estudar inglês e MKT na Califórnia e uma aluna brasileira, senhora já, esposa do mestre cervejeiro da Schincariol, ganhou da filha um chaveiro que tinha as linhas da vida e começamos a ler uns a mãos dos outros em inglês. Imagine, até hoje, meu inglês é “meia boca”, e todos diziam que eu acertava tudo sobre a vida dos outros – e em inglês! Li mão de alemão, japonês, suíço.
Quando cheguei dos EUA, comecei a ler a mão das mulheres. Estava separado e isso me ajudou a namorar uma meia dúzia de três ou quatro.
Voltando à Bahia, quando disse à Lúcia, a vidente, que lia mão, ela me pediu que lesse a dela, e também me disse que acertara tudo.
No outro dia, ainda tinha na parte da manhã um papo com os possíveis contratados e à tarde, um encontro com a diretora da TV Salvador, a Cláudia Lima, que eu já conhecia, pois havia feito um estágio comigo em São Paulo no Canal 21 – e foi por isso que as coisas aconteceram em Salvador.
A Cláudia me pegou no hotel e fomos até o apartamento dela e do marido espanhol, diretor da Vivo para o Norte e Nordeste, que estava com uma paulista e a assessora de imprensa. Conversaríamos um pouco, pois eles também estavam indo para o aeroporto.
Cláudia e eu chegamos no mesmo instante em que o grupo que estava com o marido e, por coincidência do destino,  a paulista que os acompanhava era conhecida minha a quem não via há muitos anos, o que facilitou as coisas e as conversas naquele momento.
Contei todas as histórias daqueles dias maçantes, das entrevistas e, é lógico, sobre a vidente e sobre ler mãos.
Ah, todos ali pediram para eu ler as mãos! E não sei como falei para minha conhecida que ela poderia vir a ter uma doença. Ela, pálida, na mesma hora me disse que no carro, vindo para a casa da Cláudia, recebeu uma ligação do médico dela com a notícia de que estava com aquela doença, e todo mundo se calou.
Tomamos um belo vinho espanhol, fumamos um charuto cubano e fomos ao aeroporto. Ninguém mais falou de ler mão. A partir dali, só falamos de coisas leves e para cima com o astral.
Quando voltei a Salvador, quinze dias depois, já era para fazer o start up das vendas e descobri que todo mundo sabia dos meus dotes exotéricos.
Nas reuniões, sempre tinha o cliente, sua mulher, as filhas – e no fim da história acabava lendo a mão de todos e fechando o negócio, é lógico. Como disse acima, a maioria não acreditava no resultado do canal, mas na Bahia o exotérico te impulsiona para o futuro e saí ileso. Sorte, se não poderia ser taxado de charlatão e ser preso! O canal, no início, não dava resultado, mas a leitura das mãos ... (rsrsrs...)
Isso aconteceu durante bastante tempo, até que me casei com uma delas em Salvador.
Foram dez anos de TV Salvador e, se tivesse cobrado cinquenta reais de todas a mãos que li por lá, com certeza estaria rico ou com um turbante na cabeça, agora, em São Paulo.
Antes de começar a fazer sua venda fale de sexo, drogas e rock’n’ roll. Ah, e ler mão também funciona (rsrsrs...)!

domingo, 16 de setembro de 2012

Bati de frente com o Nizan . Será que ele soube?


Estamos falando do fim da década de 1990. José Claudio Maluf( jornalista do trade publicitário) e eu em minha sala no Canal 21, onde era o diretor-comercial, mas dirigia o “Imprensa na TV”, e ele tinha um quadro de humor no programa, que ia ao ar todos os domingos às 23h, produzido pela Vídeo In, do Ricardo Narchi e do Durval, e pela revista “Imprensa”.
Lembro-me bem da piada que estava contando, sobre um fato real que aconteceu na TV Gazeta  de São Paulo, em 1993.( eu contava para ele as piadas que ele contava num quadro de 4 minutos no “Imprensa na TV”)o Maluf era mau humorado e era perfeito para aquele quadro de piadas sobre publicidade ou fatos engraçados no mercado .
Logo que cheguei à Gazeta, perguntei quem era o “financeiro” da Fundação Cásper Líbero, e minha gerente de operações disse que era o Bertulli, um descendente de italianos, grande e tão grosso como seu tamanho, que não falava com o Comercial. Fiquei intrigado, pois uma boa relação com ele seria maravilhosa. A Gazeta, na época, faturava pouco mais de 200 mil dólares mensais. Era abril e o ano mal estava começando. Eu, voltando para TV depois de dez anos em revista, não podia fazer muito carnaval.E fiquei na minha até reverter o quadro e ganhar a confiança do Bertullão.200 mil dólares por mês ele não tinha comercial rsrsrsr.
Aí, tocou o telefone e pedi ao Maluf para atender. Era o diretor comercial do IG, que estava falando em nome do Nizan Guanaes. Eu me senti superimportante. O tal diretor era meu amigo, se é que na publicidade temos amigos.
 – Hélcio, o Nizan me mandou colocar uns comerciais da WebMotors no Canal 21 de graça.  
  Como?
– É, sim! De graça. Nós temos um acordo com o grupo Bandeirantes e o Nizan mandou e temos que fazer.
– Como?
– È, sim! Ele tem visto seu canal e me chamou lá e me pediu isso.
Aí, entrei com minha frase celebre da época:
– De graça é no quarto andar, onde fica o Johnny Saad. Aqui no primeiro andar, onde fica o Comercial e o 21, tem que pagar.
O tal diretor, meu amigo, ficou bravo e me disse:
 – Você vai medir força com o Nizan? Deve estar louco!
-Vai bater de frente com o cara?
– Não, querido! O que o Nizan quer são os comerciais que fazemos pela internet, quase em tempo real.
– Hélcio, agora você quer pensar pelo Nizan?
 – Não! Se o Nizan mandou para a Webmotors e viu nosso canal, deve ser o produto que temos aqui, que chama “SP Online”. Com um laptop Apple mandamos de qualquer lugar de São Paulo imagens e colocamos no ar em três minutos.
– Não é isso!
– É isso!
 Vai não vai, convenci-o a entrar na sala do Nizan para perguntar.
– Tá bom – disse ele. Já te ligo.
Imagine, o Maluf escutou toda essa conversa sem pé nem cabeça e me disse:
 Este burro do IG vai ver escrito o nome dele na segunda na minha coluna do Caderno Propaganda. Isso é transição midiática, é convergência.
Foi a primeira vez que escutei essas palavras. Eu disse:
 Nem a pau, Maluf! Vou perder o amigo e ele não entendeu por não ter UHF em casa, tenho certeza!
Meu amigo do IG era bom demais. Era diretor do SBT e tinha sido chamado pelo Nizan para compor sua equipe no IG. Um craque!
Um dia conversando com o Osvaldo Marraccini na época diretor da Band , me disse que a pressão lá era igualzinha. 
Maluf me disse, fazendo seu tipo mau humor cínico:
– Esta não vai me passar, nem fodendo!
Demorei uns dez minutos a convencê-lo,  e, aí,  me disse:
– Tá bom menino, vamos trabalhar. Não ganho nada para fazer esta coluna( 4 minutos semanais), mesmo. Não posso perder tempo.
Voltamos à piada da TV Gazeta e ele me perguntou se eu tinha conseguido falar com o Bertulli.
– Lógico, em julho!
– Em julho, por quê?
– Porque já estávamos faturando um milhão do dólares e o Bertulli já era meu amigo.
– Qual é a piada?  
Tocou o telefone de novo. Era o meu amigo, diretor-comercial do Nizan, e não do IG (rsrsrs...). Já estava até preocupado, pois o Maluf não tinha papas na língua e ele não iria deixar de publicar na sua coluna o resultado do telefonema, de jeito nenhum!  Mesmo que me perdesse como amigo e contratante.
Mas, para minha felicidade, meu amigo falou com o Nizan e viabilizamos, por seis meses, seis entradas diárias direto do WebMotors, de três minutos, em tempo real. O Marcelo Cesário hoje na HBO é que treinou os editores do Webmotors foi a primeira ação via internet na TV . Os meninos da WebMortors faziam as ofertas quinze minutos antes das horas cheias como se fossem as cheias, e entrávamos no ar ao quase ao vivo – tipo, ao vivo motoboy (motolink com delay de 15 minutos), coisa que já tinha feito muito em outros canais. Mas em 1998, pela internet, era um luxo.
Maluf adorou. Acreditou que meu amigo era bom mesmo e não falamos mais sobre o assunto – e ainda me viu faturar  15 mil dólares mensais do Nizan. Eu, que já era uma craque para o Maluf, virei herói. Só fiquei com medo de ele ir até o IG e tentar tomar o dele também – coisa que não aconteceu; ele me respeitou e não foi lá.
– Mas Hélcio, que piada é essa que não acaba, sobre o tal Bertulli? – perguntou Maluf, impaciente. Acabei de escutar a melhor do dia e você não vai me deixar publicar. A da TV Gazeta tem que ser boa mesmo.
– Em julho do mesmo ano em que entrei na TV Gazeta – respondi – minha equipe já faturava o milhão de dólares por mês, como já te disse.
E continuei:
– Estava na JWT com o financeiro, negociando um BV. Ainda não havia celular, e como os contatos deixavam o roteiro do dia com a secretária, a Tereza recebeu uma ligação do Bertulli, puto, que estava no Banco Safra negociando umas promissórias e o gerente não as queria descontar. A secreta, preocupada, sabendo da truculência do Bertulão, passou o telefone da JWT.  Aí, começa a piada:
“ – Hélcio, eu estou aqui no Safra com umas promissórias e o gerente não quer descontar. Você vendeu 40 mil dólares para uma lanchonete o mês passado?
– Eu, não!
Ele, que me chamava carinhosamente de Gordinho, mudou o tratamento.
– Sim, Hélcio!
Pensei comigo: ‘Como vou explicar esta loucura para alguém na Fundação’.
– Mas como chama essa lanchonete?
– Pera aí, vou ver – disse Bertulli
Dois minutos depois, Bertulli entra novamente na linha e fala bem baixinho o nome da tal lanchonete:
– Restco, Indústria e Comércio de Alimentos.
– Restco é o McDonald’s – respondi baixinho também.
E ele me disse, baixinho:
– Tá bom, Gordinho – e desligou.”
No cadastro de clientes da TV Gazeta, eles nunca haviam faturado o McDonald’s. 
O Maluf não deu risada. Ainda queria publicar a história que havia escutado sobre o Nizan.
Moral da história: morri em 2000 reais por mês com aquele quadrinho de quatro minutos no “Imprensa na TV”, que, até então, não pagava nada. Justíssimo , acho que eu fui o único cara que o Maluf trabalhou uns seis meses de graça.
Burro não era, o tal diretor comercial do IG, o competentíssimo Mauricio Palermo, e sim eu,  que o deixei  o Maluf escutar minha conversa com o pupilo do Nizan.
Achava-me o bom por vender  lebre por gato, mas o Maluf, no jornalismo e na publicidade, era colunista da velha guarda,  que  para sobreviver   produzia  e vendia  gato por gato e lebre por lebre, em seu jeito ético, sabendo  a medida exata e o limite entre as duas vertentes do negócio jornalismo e publicidade.
Bem, amigos, tive a oportunidade de viver com grandes pessoas na comunicação. São 4h30min da manhã, e a Rose de Almeida(pupila do Maluf e jornalista do trade publicitário)  me pediu este comentário sobre nosso querido Maluf à 1h30min. Vi no Facebook que ela estava on-line e a mandei dormir, que o Cascão marido dela e publicitário também, estava bravo com ela. Logo em seguida, na segunda frase de minha conversa,  escrevi uma das cem melhores frases do meu  falecido amigo Otto Lara Resende: “Não sou imbecil por completo porque tenho insônia”.
Por isso, estou aqui, fazendo esta homenagem ao nosso querido JC Maluf. E acabando às 4h30min da manhã.
Meu dia amanhã vai ter o humor do Maluf. Parabéns, meu querido,onde você estiver! E para a Rose, que está buscando histórias lindas a respeito de um pensador ilustre com quem tivemos a oportunidade de viver e aprender neste mundo competitivo da propaganda e do jornalismo.
Hélcio Henrique Vieira, 54 anos, foi diretor-comercial de diversos veículos em diversos meios e publisher em diversas empresas de comunicação. Hoje, se reinventa estudando mestrado em Cinema para justificar sua tese “Convergência Social pelos Processos e Linguagens Audiovisuais”.
E esta foi a primeira história que escrevi e virou este blog semrura888 que tem milhares de pessoas que leem todas as semanas há 24 semanas. Quase 6 meses .  Obrigado Rose de Almeida.

Valeu Maluf !!!!! .