terça-feira, 1 de maio de 2012

Trabalhar na DPZ era um barato (a)


Depois dos três primeiros anos como assistente na TV Globo São Paulo, fui convidado pelo Reinaldo Postolacchi para ser comprador de mídia na DPZ – integrei-me à equipe da Lucélia, da   Riva e do João Carlos. Naqueles anos, éramos a número 1 do mercado; ganhávamos em faturamento das multinacionais Mccann, JWT e Y&R. O João saiu cedo e foi para a Manchete, que acabara de abrir, e em seu lugar entrou o Manuel Nascimento, que veio da NovaAgencia  e a quem quero fazer uma homenagem aqui: foi  um dos melhores profissionais de mídia do país, aprendi muito com o Mané. Além de fazer seu trabalho, nos ajudava e sempre foi fiel a seus clientes e às empresas em que trabalhou;  foi um dos mídia que fez a WBrasil do Washington brilhar –  ele entrou lá no início da agência.

Nossa equipe recebia todos os veículos. Lembro-me bem que o Magrão, como era chamado o Reinaldo, pegava forte e fazíamos as propostas girar na agência. Pesquisávamos o que o mercado tinha de novo e achávamos tudo para o planejamento e a criação.

Fomos os primeiros a colocar bus door em quadricomia – deu a maior merda –, fomos os primeiros a pôr anúncios coloridos na “Folha” – também deu diversas merdas o Frias brigou comigo nos 3 primeiros anúncios . Placas do JHavila nos estádios , comprávamos até sem autorização do cliente, como na primeira final do sub-18, quando compramos para o Itaú e a Vulcabrás porque a Globo só decidira às 19h e a Tania,  que depois virou Nara (ousada aquela menina), nos procurou e, numa loucura, compramos (Wilson Ferrari - Itaú e Cauby Vasconcelos- Vulcabrás)  sem os clientes saberem. Eles viram no ar às 22h30min. Nossa  sorte foi que o Brasil ganhou,  e a audiência atingiu 45 pontos ou ainda mais. Lembro-me até de uma carta de um dos DPZs falando de nossa ousadia e oportunidade –   aquilo também poderia ser a rua , mas não foi;  foi digno de elogios.

E o mercado sabendo disso, a cada dia mandava mais propostas, e tínhamos que começar cedo e terminar tarde, todos os dias.

Era a época do pé de meia do Itaú e tinha um cara que ligava todos os dias para a secretária, a Sueli (lindona, mas com o Vaness vencido sempre), e dizia que queria falar com o comprador de mídia do banco. Como seu palavreado não era de veículo e sim de mecânico de veículo, a Sueli o tesourava e me contava, até que um dia pedi para passar a ligação e perguntei-lhe qual era a ideia, e ele me disse: “Se lhe contar, não vou ter como receber de vocês”.  Aí, eu falei:  “É lógico!”. E ele nunca mais ligou.

A equipe de planejamento também tinha seus craques, o Flavio Nara, o Paulo Onken,  supervisores, e os planejadores Vanderlei, Fernando Sales, Eliane Zacarias, Wilsinho Ferrari (devo estar esquecendo alguém, me desculpe). O Valdemar Listenfeld, o diretor de mídia da agência que mais faturava no Brasil.

Como arriscávamos, todos queriam estar lá com seus projetos, suas propostas, almoços – todos queriam estar com os compradores da DPZ.

Como vinha da Globo, nossas reservas foram as primeiras que chegaram à Globo com as SRTs (impresso de preenchimento manual). Para facilitar a vida dos assistentes da Globo, já mandávamos prontas as planilhas, que eram montadas a partir das PIs que mandávamos. Isso facilitava a entrada de nossas reservas;  hoje é assim, as reservas são feitas pelas próprias agências .

A vida era boa naquela época de DPZ. O computador já existia, mas não mandava na gente, e  a gente ainda mandava no computador (rsrsrsrs).

Um belo dia, de tanto tentar marcar uma reunião com o comprador do Itaú, um certo sobrinho do dono da Le Postiche, que estava abrindo um departamento de brindes,  conseguiu .Usou o nome do Alfredo Luiz dos Santos ,gerente de publicidade do Itaú .Nem consultei o Alfredo sabíamos o que cada um pensava e eu estava ali para trabalhar.

Ele confundia mídia com mídia em brindes e não deixava de ligar todos os dias.

Para não atrapalhar o dia, pedi à Sueli para marcar na segunda bem cedo, umas 8h30min, os veículos só chegavam a partir das 10h, na segunda.

Quando cheguei, o rapaz já estava no sofá em frente às quatro minúsculas salas no primeiro andar da agência. Nós ficávamos de costas para a Cidade Jardim, nas salas cabiam o comprador e no máximo dois vendedores; quando um planejador participava da reunião, tinha que ficar em pé.

O rapaz estava com uma mala enorme de viagem, das maiores que existem. Entramos na sala com aquela mala, o sobrinho e eu. A sala pequena,  tivemos que fechar a porta e aí ele começou a abrir aquela mala e tinha outra dentro e diversos brindes dentro dela e aí o inesperado: duas grandes baratas saíram de dentro daquelas malas, naquela sala pequena; um megabarulho, e uma das cadeiras travou a porta, e a secretária a Sueli tentando abrir a porta, achando que estávamos brigando , até que conseguiu! E nós dois, um colado na janela e o outro atrás da porta aberta, e as duas baratas voadoras dentro da sala.

Ele dizia que as baratas estavam na sala e eu dizia que as baratas estavam dentro da mala. A Sueli também entrou na discussão – e as baratas estavam dentro das malas.

Rimos o dia inteiro desta aventura no 1° andar da DPZ. Eu jamais brigaria com um contato; foram eles que fizeram nossos nomes no mercado. O barato ou a barata morreu ali.

Recentemente, algumas agências colocaram mídias para atender veículos, mas sem a magia daqueles tempos em que o barato era atender a barata.