quarta-feira, 11 de julho de 2012

O Rei do Televendas


Todos acham que o mercado publicitário sempre foi um mar de rosas em qualidade de vida e muito dinheiro posso dizer que tive os dois casos em minha vida profissional , já os de pressão e pouco dinheiro foram difíceis mas tão engraçados e divertidos quanto .
Esta história teve seu começo em 1993 – para ser mais preciso, em 23 de abril de 1993 –,quando fui contratado pela TV Gazeta de São Paulo para montar o comercial da nova rede da qual iríamos  fazer parte, a CNT-Gazeta,  sociedade entre a rede OM de TV, da família Martinês de Curitiba, e a Fundação  Casper  Líbero de São Paulo .
A denominação nova era uma exigência minha, pois estávamos com muitos problemas com a dissolução da rede OM – uma parte, pois ela fazia parte do espólio Collor; a outra eram as triplicatas emitidas da Lever a outros clientes menores (rsrsrsrs...),  que se confundiam nas agências e clientes com as emitidas na mesma época pela rede Manchete. Coincidência ou não, tínhamos apenas sete emissoras no ar e a confusão das triplicatas só eu e os financeiros das agências da época sabemos como arrumamos. Não posso deixar de lado o Claudio Carramacho, que foi um ótimo parceiro nas confusões das triplicatas na Fundação.
Uma das estratégias para se ter uma boa equipe foi pagar uma comissão alta, mas era preciso faturar. E lá fomos nós ao mercado com um discurso fabuloso que eram as audiências que a união antiga da Gazeta com a OM tinham dado nas transmissões da Libertadores da América com o Galvão Bueno, e a sorte que tivemos com a vinda do Clodovil e do Hélio Sileman que segurava o moço em um programa diário, de segunda a sexta, das 22h às 23h30min, que emplacava quatro pontos de audiência e já vinha com o patrocínio das cafeteiras Wallita ( mais oi menos assim rsrsrsr), na época do poderoso Ricardo Adans, diretor e depois VP de Marketing, um craque.

Éramos doze contatos, eu e o Carramacho, que às vezes dava uns pequenos probleminhas (rsrsrsrs...), mas sempre foi parceiro da equipe.

Uma de suas estratégias foi fazer a equipe chegar diariamente às 8h da manhã para uma reunião no oitavo andar na sala Casper Líbero, que ficava ao lado da administração da Fundação e do RH, cujo pessoal só chegava às 9h, mas via a equipe comercial trabalhando todos os dias uma hora antes. Isso nos ajudou bastante, ninguém falava que éramos folgados e sim uns workaholics.
As instalações eram um horror e aos poucos, com grana na casa, fomos também fazendo a cabeça dos diretores e a Fundação foi melhorando sua cara, até festa demos lá.
Em seis meses, os contatos que ganhavam R$1.000,00 por mês já ganhavam perto de U$ 5.000,00 e , em um ano , U$ 12.000,00. Que proeza! E tudo começou logo na segunda semana, com uma ligação.
A secretária me passa uma ligação e a pessoa diz que queria anunciar no programa “Mulheres” e eu perguntei a verba. Em abril daquele ano o faturamento da TV tinha sido  de U$ 200.000, e só aquela consulta seria de U$ 400.000 ao mês (tinha algo errado ali). Achei que era uma brincadeira um amigo tirando uma com a minha cara, perguntei o endereço e a pessoa me disse que era Rua Barão do Triunfo. Eu morava na Barão do Triunfo  e falei para a pessoa se identificar e a pessoa disse o nome Honor Rodrigues, e a pessoa me disse que não era brincadeira. Ficamos uns segundos nessa conversa mole até que descobri que era uma cliente mesmo, na época o dono da Company Publicidade ,o rei das televendas, seu produtos davam diversos problemas no Procon, na Saúde Publica e vira e mexe tínhamos um boato de que ele iria quebrar ( um dia vou contar uma história só sobre as façanhas deste Honor).
Esse cliente ajudou a levantar a moral da equipe. Imagine, do dia para a noite consegui, ou melhor, caiu do céu um faturamento que era o dobro do que tínhamos.
Muitas histórias aconteceram sobre e com esse cliente na minha vida de vendedor de TV. Uma delas foi a própria sorte de estar na emissora ás 8h, horário em que ele ligou e em que normalmente ninguém ainda chegou aos departamentos comerciais das emissoras.
Outra foi: apesar de sua falta de ética, com a qual tentava nos impregnar, não termos nos curvado e, com isso, passamos ilesos por suas trapalhadas e tentativas de nos corromper ( Decon, Procon e até Justiça).
Perguntem ao Osvaldo Marraccini ele atendeu muito o Honor rsrsr
A última vez que ouvi falar do Honor foi no dossiê Uruguai, aquele que o Collor tentou forjar em Miami  – e acho que o Honor acabou caindo na Justiça de lá. E o que posso dizer é que nunca levei um balão do homem e ganhamos muito dinheiro com as veiculações daqueles produtos para crescer cabelo, cartilagem de tubarão e os primeiros pets para parar de fumar do mercado.
Honor Rodrigues foi o vilão de muita gente, mas posso dizer com convicção que salvei minhas metas com  aquele dinheiro nas horas mais difíceis de minhas gestões na Band ,Gazeta SP e Canal 21, e garanto, se houve um “Rei do Televendas”, foi ele. Pena que sua ética estava abaixo das 8h da manhã.       




domingo, 8 de julho de 2012

Churrasquinho de paginas.


Um dos lados da mesa que me deram muito trabalho foram as vezes que me aventurei na área de circulação, especificamente nas assinaturas de revistas. Era o ano de 1989, e eu na Feeling Editorial – editora da revista “Imprensa”, na época uma estupenda publicação que fazia só de publicidade umas cinquenta páginas mensais. Vendíamos bem em banca e as assinaturas eram um problema.
Éramos bem organizados, tínhamos representantes em todos os estados, mas em São Paulo as grandes editoras não deixavam espaço para os pequenos e, por mais que procurássemos, com uma só publicação ninguém queria nos representar na maior cidade do país, e nós teríamos que resolver esse problema.
Em 1990, tivemos um dos planos econômicos, o plano Collor, e aí as coisas pioraram.  Fazíamos um evento no Ceasar Park uma vez por mês, e chamamos os melhores especialistas em assinaturas, lembro que uma delas era a Adélia Francisquini(era diretora de mkt da editora Abril )e todos falavam que estavam parando seus departamentos, pois vender era ter prejuízo mês a mês. As empresas não tinham dinheiro no caixa, pois a ministra Zélia tinha tirado o dinheiro da conta de todos. Estávamos num dilema, vivíamos de publicidade e ela havia parado também.
Tínhamos uma permuta monstruosa com a Vasp que a Rosana Roque nossa gerente de publicidade  fechou e até nós achamos muito alta( a Rosana vendia muito). Foi a última vez que fiz permuta com uma companhia aérea (acho que a Rosana exagerou, rsrsrsrs...). Nosso melhor representante no Brasil estava em Porto Alegre, um ex-gerente de assinaturas da Visão em São Paulo, gaúcho dos machos, vendia o dobro de todos os outros estados.
Conversando com ele um dia por telefone, descubro que acabara de perder seu melhor cliente de assinaturas em Porto Alegre( a Editora Globo) e seus vendedores estavam indo embora. Fiz-lhe uma proposta de trazer sua equipe para São Paulo de avião. Imaginem vendedores de assinatura viajando de avião e não é que deu certo.
Dois dias depois, o gaúcho me liga topando, só teria que conseguir um hotel baratinho em São Paulo. Mandei nosso “resolve tudo” para a região da Major Sertório e no fim do dia já tínhamos um andar para os gaúchos. Vieram doze e o dono da empresa.
Aquilo foi minha salvação e meu desastre diário. O ex-gerente da Visão, o dono, ficou uma semana e depois eu fiquei com a gauchada. No hotel eles arrumaram todas as confusões possíveis; fui lá tirar prostitutas com faca no pescoço de um dos gaúchos; um dia, todos saíram pela porta dos fundos sem pagar, achando que daria certo, e lá fui eu resolver; no Estadão, fui buscar um, preso pela segurança, troquei  eles de hotel e ai me chamam as pressas num domingo lá no hotel eles quase puseram fogo fazendo um churrasco num dos quartos e o que estavam usando de bucha as paginas da revista Imprensa, e um sem fim de histórias que estes gaúchos me arrumaram em São Paulo.
Mas uma coisa aconteceu, venderam perto de 22000 assinaturas de dois anos, façam as contas!  Salvaram a editora e a revista. Se íamos entregar, era outra coisa. A “Folha” na década de 50 ou 60 vendeu assinatura vitalícia e não entregou. Mas naquele momento era o que precisávamos e acabamos entregando.
Tínhamos outros problemas, como não sermos roubados na própria revista. Não tínhamos estrutura para aquela logística de depósitos e controles, ou os cheques que os clientes, depois do malho dos vendedores, não entendiam por que haviam emitido e assinado aquele tipo de revista. Tudo era problema, mas eram muitos, e a grana era à vista na conta.
Os gaúchos ficaram com a editora por muitos anos. Lembro-me de que dois anos depois ainda tínhamos dois deles e um que havia ido para Goiás e engravidado uma moça lá – e o pai dela me ligou para ver como resolveria aquele problema, que não resolvi, é lógico!
Fico imaginando o pepino que deve ser nos departamentos de assinaturas das editoras com a internet, aquele mundo de gente que tira a meia sem tirar o sapato e vende revista para quem não sabe ler. Ah, será que as vendas on-line resolvem estes problemas?  Rsrsrsrsrrsrs.