sábado, 13 de outubro de 2012

Mcdonald's em Verde


Perto da Eco 92 ainda nem sabíamos direito o que era reciclável, reciclado e termos que hoje são tão conhecidos de todos nós.
Fiquei um pouco preocupado dias destes, quando descobri que perto de 70% dos brasileiros não sabem o que é atitude sustentável ou ação sustentável, mas chegaremos lá. As empresas e  as pessoas estão melhorando o entendimento do que o planeta necessita .
Dois dos personagens desta história são o Rogério Ruschel e a Vera Giangrande. Ele, hoje, consultor de Sustentabilidade, mas na época era planejamento  de uma grande agência de Relações Públicas , a AAB, do grupo Ogilvy, e a competentíssima Vera, já falecida, mas a personagem pioneiríssima de Relações Públicas no Brasil.
Era 1991 e eu, publisher da revista “Imprensa” no auge de sua credibilidade e da minha  como profissional. As ideias eram tantas e com os personagens  eram bem mais fácil de falar e  apresentar  nossas ideias -- não como hoje, que há dias tento marcar uma reunião com um profissional da publicidade;  já falei com o cliente dele e vou acabar mostrando o projeto antes ao cliente que a  ele. Mas a vida parece que anda rápido só para alguns e não para todos nós mortais  (rsrsrs...). 
Voltando à Eco 92 ,tive uma ideia maravilhosa para a época:  encartar na revista “Imprensa” um glossário de termos ecológicos em português e distribuirmos na Eco em inglês .  Convidamos o Rogério Ruschel para escrever, que atendeu prontamente nosso convite  -- sei que tem um exemplar em sua casa, único, pois nem a própria editora tem um exemplar sequer.
As redações teriam que conhecer aqueles termos tão comuns hoje, mas que na época eram “ecolomês”.
Aprontamos o projeto e lá fui eu vender, mas para minha sorte estávamos fazendo aniversário e na festa comentei com a Vera Giangrande e ela me falou que venderia aquela ideia ao McDonald’s. Eles, em 1991, ainda eram pequenos no Brasil e revista não seria a mídia ideal, mas a Vera era a dona do mercado de RP e fui na dela.
Passaram-se uns dois dias  e a Vera me ligou e me mandou falar com o diretor de MKT do McDonald’s, o Luiz Mario Bilenky, que tinha sido da Fotótica -- ele e o Marcos Gaiarça --  em cuja conta eu havia trabalhado quando era da DPZ e já nos conhecíamos.
Cheguei lá e o Bilenky  olhava, olhava e não falava nada. Ele era metido, mas certeiro, e disse:  “Se você fizer em papel reciclado eu aprovo já”. Disse que iria ver como faríamos e corri para a editora. Quando cheguei lá ainda liguei para perguntar se era reciclável ou reciclado e tomei uma bronca do Bilenky: “Reciclável todos são”,  quase me chamou de burro, o que, na real, eu naquele momento fui.
Corri atrás do fornecedor de papel reciclado, a Tanure, no Rio de Janeiro.  A gráfica Abril me disse que era a primeira vez que eles imprimiam em reciclado, o que foi uma aventura, pois papel rasgava muito fácil.
Fizemos a lição de casa e o cliente fez a dele e aprovou o projeto.
O Luiz Mário Bilenky  era daqueles que inovavam muito imprimiu a marca do McDonald’s  em verde em vez do vermelho -- foi a única vez que vi isso em se falando da multinacional dos sanduíches.
Tudo ia bem até a hora de colocar o grampo. As máquinas da gráfica Abril pipocaram e tivemos que correr para outra gráfica com as máquinas de grampear diferentes e que não rasgariam mais papéis.
Quem trabalha com revista sabe tudo: é na última hora e nós, para variar, estávamos a poucos dias de perder a data de faturamento.
Mandamos uma Kombi com a secretária do Comercial buscar e levar de volta à gráfica Abril. A   Adriana (ver história “Pomba Gira”), que no trajeto pega uma pagina e lê, justamente aquela em que o presidente do McDonald’s fazia a apresentação  --  e não é que havia erros de digitação ou datilografia? E tudo atrasado, ficou pior ainda.
Liguei na fabrica de papel, não tinha mais. Indicaram-me  a João Fortes Engenharia, que comprara um lote há poucos dias. Falei com um dos filhos do João, que me cedeu duas resmas que me salvaram a vida.
A Adriana ainda não era alcoólatra e me salvou a pele diversas vezes nos dezesseis anos que trabalhamos juntos.
Fomos os primeiros na imprensa nacional a imprimir  em papel reciclado. Os créditos são do Mcdonald's , Rogério Ruschel,  Luiz Mario Bilenky, Adriana Batistini, Gráfica Abril e, é lógico, com homenagem especial para Vera Giangrande, que  24 anos atrás já enxergava a importância da sustentabilidade, termo que nem estava no glossário, o ator principal deste texto. 

 

 

domingo, 7 de outubro de 2012

Dia de fúria em uma TV

Sempre digo que me arrependo do que não fiz, do que fiz não me arrependo. E esta história eu tinha que contar, mesmo com alguns nomes ficando de fora. Quem trabalhava neste período no mercado sabe de quem estamos falando.

Era já a terceira vez que o Luiz Fernando Taranto  – superintendente da Fundação Cásper Líbero – me chamava para trabalhar lá. O ano era 1996. Cheguei e fiz uma coisa que o Paulo Saad fez quando substituiu o Orlando Marques na Bandeirantes:  troquei todo mundo de sala e lugar e promovi a gerente três contatos, o Gilberto Corazza, o Marco Piccolo  e o Márcio Loducca – e o Luiz Carlos Stein de diretor, segurando a barra. Eu queria vê-los se matando; um era mais competitivo que o outro. O Piccolo brigava até no par ou ímpar; o Corazza, quem trabalhou com ele sabe; o Loducca também não era bonzinho. No dia seguinte, todos sabiam que a direção havia mudado.
Chegamos à CNT Gazeta o Stein e eu. O Stein quase me mata, pois falei que devia ter de um milhão e duzentos a um milhão e quinhentos por mês e na real tinha quatrocentos mil. Ele ia ganhar menos que na Editora Azul, com o Ênio Vergueiro, mas convenci o moço de que em dias estaríamos com um milhão e oitocentos a dois milhões. E não demorou muito – uns dois meses e já estávamos lá.
Naquela época, as televendas faziam a diferença, e eu era amigo de todos eles, a maioria convencida por mim a entrar no ar. Todos tinham uma cumplicidade comigo não falávamos de espaço, falávamos de dinheiro.
Mas a história foi uns seis meses depois que voltei e já todos estavam familiarizados comigo e com as gerências.  A disputa era ferrenha. O Stein e eu fomentávamos a competição entre as equipes e a coisa funcionava. Éramos um time, fazíamos festa todas as noites no Mexicano e tumultuávamos o mercado com a CNT Gazeta. A diferença eram o atendimento e os projetos. Nós podíamos tudo, era a época em que a Globo e o SBT não podiam nada, a Bandeirantes sempre cheia e não existia mais nada – a Ana Maria dava 1 ponto na Record  .Foi o ano que a J&J ganhou o ouro em mídia em Cannes anunciando no programa Mulheres um projeto nosso.
Em determinado dia, o Gersom Alvin, contato nosso, me diz que conseguira marcar uma reunião com o Rei das Televendas, de quem já falei aqui, numa história só sobre ele. Estava voltando mais uma vez, dentre tantas em que ele quebrava e voltava com outro sócio.
Imagine, ele já até estava anunciando com a gente e eu não sabia, nem ninguém!  Só soubemos quando estávamos com ele na reunião. Cheguei e lá estava seu Honor Rodrigues me esperando (ver O Rei do Televendas).
Pronto como sempre, montamos um plano enorme de veiculação e o Gerson, já contando a comissão. O novo sócio do Honor chama alguém para fazer os mapas e entra uma menina linda, jovem, ainda uns 24 anos e me apresentam a ela. Quando o Honor acabou de falar que eu era o diretor da CNT Gazeta, ela começa a gritar comigo sobre um concorrente dela que estava veiculando um desses pets de parar de fumar antes dela e com mais frequência, e eu, sem saber quem era aquela menina, ia mandar ela... Aí, o sócio do Rei do Televendas levanta e diz: “Não, é minha filha!”. Branco total, a menina gritando e eu nem sabia o porquê. Levantamos e fomos embora. O clima ferveu e a menina descontrolada continuou gritando.
Quando cheguei à Gazeta tinha telefonemas e até umas flores de agradecimento, pois ninguém reparou que eu ia falar um palavrão e passei ileso. Garantimos uma grana enorme no basquete do mês.
Naquela época, o Roberto Avallone estava doente e levava até a médica dele no “Mesa Redonda”, e também andava arrumando confusão no andar do Comercial. Naquele dia, mandei ele, doidão, embora, pois estava falando mau de mim na sala de uma das gerências e, como eram divisórias de biombos, eu estava atrás e escutei tudo. Eram umas 17 horas e, sorte, não havia contatos. O Avallone é amigo meu até hoje naquele momento estava bem doente mesmo.
Aquele dia não devia ter existido. Eram umas 19 horas e no grupo do Gerson o gerente dele ainda não sabia da nossa façanha com o Rei do Televendas. Estávamos conversando, quando ele chegou e falamos do que havíamos faturado. Ele também começou a gritar comigo e eu fui andando para minha sala e fechei a porta. E não é que ele derrubou a porta? Para minha surpresa, o Stein tinha ido tomar café na copa dentro da sala e quando a porta caiu ele estava lá dentro também.
Que merda de dia! Aquela pressão que impúnhamos dava certo no holerite, mas ferrou muitas amizades bacanas. Tudo aquilo foi muito punk. Comenta-se disso até hoje. Quando encontro subordinados de nossos contatos e gerentes, eles me falam sobre os métodos que são comuns até hoje, que seus chefes comentam (rsrsrs...).
A vida em uma televisão é uma tempestade em alto mar o tempo todo ,principalmente se você tem um barquinho para navegar dentro dela( CNT Gazeta) , se tiver um transatlântico como na Rede Globo é uma tempestade também com melhores condições de suportar.
Tive que mandar embora ou degolar, como falo desde o começo da profissão, um dos melhores amigos e profissionais que conheci. E, é lógico, nunca mais fomos amigos como éramos.