sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Mudança de Hábitos

Há 9 anos, deixei de me meter a vender espaços comerciais em veículos de comunicação. O mercado fez um pacto em não atender os contatos e, para não ser criticado, marcava e desmarcava até você não marcar mais.
Vender é uma arte e ficar na iminência de olharem seu e-mail já não me adrenalizava mais. Eu mesclava e-mail,fax, telex  e visitas a  vida toda.
A coisa não deve ter mudado muito de uns anos pra cá no quesito atendimento , no resto mudou tudo. Direto tenho visto ad sales ( contatos) reclamando nas redes sociais, e a prática do marca e desmarca até piorou. Hoje o cara nem desmarca, apenas não aparece para atender quem marcou, pagou estacionamento e perdeu seu tempo.
Esses dias, fiquei sabendo que o Grupo Globo vai unificar todo seu staff de vendas, TV, internet, rádios, editora, jornais e outras plataformas e resolvi pensar no assunto.
Imagino que as agências de publicidade vão mexer em seus quadros, juntar seus cacos e cometer o suicídio em massa.
Posso apostar que o carro-chefe vai se dar  muito bem a TV e os outros vão acabar sendo aos poucos excluídos dos planejamentos, neste país dos 3 mercados – ricos, pobres e esquecidos. A TV ainda tem força, vejam os índices: Globo 2/3, SBT e Record 1/3 cada, grosseiramente, Band e RedeTV nem coçam no Kantar/Ibope, 60% da população ainda vê TV como antes da internet.
Lembro quando a Band bonificava sua melhor praça, o SP1, em detrimento de sua venda da Net. Crescemos quando desmembramos a emissora de São Paulo, 500% em menos de um ano.E olhem que o diretor comercial nacional da época o Dalton Machado na minha opinião foi um dos melhores de todos os tempos.
Vejam a RBS, que tentou isso e hoje dizem que tudo desmoronou no Sul do País. Vendeu Santa Catarina e o grupo vem acompanhando a decadência da matriz, dos R$ 16 bilhões de reais em 2014 para pouco mais de R$ 6 bilhões de reais previstos pelos entendidos em 2019.
O amigo Rodrigo Arnaut, que trabalhou na Vênus Platinada na área de inovação, até três anos atrás, me disse que em 2009 já estava tudo pronto (iOS, Android, web e smartTVs) para lançar o que hoje conhecemos como GloboPlay. Ele foi responsável pelos primeiros aplicativos lançados pela Globo, como o pioneiro app Central da Copa, que chegou a ser o mais baixado na loja da Apple (iTunes na época), mas quando ele procurou expandir a ideia a outras áreas da Globo, encontrou as tradicionais barreiras ao mexer no vespeiro e chegou a ser indagado sobre estar criando algo contra o modelo da empresa. Mas o Rodrigo estava, de forma visionária, tão empolgado com o futuro, que insistia na ideia, e acabaram o tratando como louco internamente, o que gerou muito estresse, inclusive chegando a ser internado em clínica psiquiatra pela pressão e ansiedade vividas naquele momento. O produto GloboPlay acabou sendo lançado em 2015, três anos após a Netflix no Brasil, e naquela época foi lançado praticamente com os mesmos conteúdos da TV. Apenas agora, em 2019, que surge com muitas séries originais ou compradas exclusivamente no on-line, as quais, segundo os anúncios, chegam a 100, enquanto a Netflix tem 7.500 séries. O pioneirismo da Netflix, três anos à frente, deixou a competição muito difícil, que nem podemos chamá-los de concorrentes.
Em pouco tempo a TV Globo mudou umas três vezes seus diretores comerciais, tem acertado nas vendas de merchandising, que chamo de infoshow em textos acadêmicos, e espero que acerte, pois o mercado cada dia sofre os efeitos do marca e desmarca e dos erros bobos de quem não topava nada e agora topa qualquer dinheiro.