Em 1986, voltando de Belo Horizonte para a Record ainda dos
Machado de Carvalho, comecei a ter a minha primeira experiência em vendas de
publicidade em São Paulo. Ficara quatro anos em BH, na Globo Minas, numa equipe
que fez coisas incríveis e de repercussão nacional, como os enduros da Independência
e da Liberdade, existentes até hoje, e a alavancagem do grupo mineiro de moda,
que até hoje tem a Arezzo, Cedro Cachoeira e a Vide Bula, entre outros bons nomes
do país.
Chegando à TV Record São Paulo em julho de 1986, tinha como
meu gerente o Ricardo Cury (o Minhoca), o Ivandir Kotait na direção comercial o
Alfredinho Machado de Carvalho no mkt e o Jair, também como gerente comercial.
A equipe era pequena e ainda estavam lá uns remanescentes da
formosíssima turma que vendeu Jovem Guarda, Circo do Arrelia e Família Trapo, o
Dilo e a Lita. Eu vinha para o lugar do Ramon, que havia se aposentado.
O Dilo e a Lita eram dois lordes, muito educados e sempre
muito bem apresentados, tinham as melhores carteiras de contatos e faturavam
ainda muito bem.
Meu primeiro dia de trabalho foi numa segunda-feira e como
era início do mês, o Jair tinha a tarefa de entregar as reservas que já haviam
chegado do mercado e, é lógico, todos receberam seus mapas e autorizações de
suas aberturas de mês ainda éramos da era manual na Record é lógico. Como não
recebi nenhum, achei que era porque estava chegando naquele dia, mas, na
verdade, quando perguntei ao Minhoca,
meu gerente, ele deu a má notícia: não havia reserva nenhuma e minha
meta era igual à dos outros do meu grupo.
As coisas iam ser difíceis, vindo com dois filhos de mala e
cuia para minha cidade. Fui à luta. Lembro-me de uma força que o Edson
Shinohaha me deu na JWT e do Wellington Barros. Como antes de ir para BH eu era
assistente na Globo e atendia bem as coisas da JWT e em todas as agencias tinha
um bom relacionamento, eles reuniram a mídia toda e me enturmaram com quem eu
não conhecia. Lembro-me do João, Almir, Rato e Amauri Iori. Até a recepção
fazia a mídia atender todo mundo.
Minhas primeiras reservas foram da Alice Orlando, na época na
Norton e hoje na AGEISOBAR. Mandou-me uns mapas para o interior de São Paulo – tinha
uma boa cobertura a Record no SP2(interior de SP) era um cliente agrícola (acho que a Quimio) – e eu
fiz uma festa enorme na agência. Conversamos sobre isso dias depois, mas ela
não entendeu na hora. Era tão pouco dinheiro e eu tão empolgado, foi minha
primeira venda em São Paulo ou melhor alguém havia me comprado.
Em cinco meses já batia minha meta. Lembro-me de que o
Marcelo Assumpção, hoje diretor nacional comercial da Globo, era contato e fez
um trabalho lindo no mercado imobiliário ,pois ele até ali só anunciava em
jornal. Tinha no ar na Globo todas as imobiliárias e construtores e nós na
Record, nenhum .
O Ricardo Cury deu uma missão à equipe, teríamos que ter
alguém no ar e lá fui eu visitar, e nada, reunião após reunião! Um dia, vejo na
Globo uma tal de Varella Imóveis e Construtora. O escritório era em Moema, e fui
lá sem marcar.
Quando falei em Record, a secretária já me rifou para o outro
dia. Eu ainda jovem e com gás total, perguntei se o seu Varella estava lá. Ela
me disse que o Mercedes no estacionamento era dele.
Voltei para a emissora e no dia seguinte armei uma prontidão
na frente do carro do seu Varella. Passei a manhã inteira e almocei na padaria em
frente. Umas três da tarde um jovem senhor
se aproxima do Mercedes, e lá vou eu abordar aquele empresário. Só tinha um
tiro: o futebol da Record com o Sílvio Luiz. Dávamos sete pontos e eu sabia que
se vendesse não decepcionaria o cliente.
Ele me atendeu meio de olho virado, mas me mandou estar no
outro dia às 8h da manhã, achando que eu não chegaria. Apareci no horário e já
me dei bem, pois ele se atrasou mais de uma hora e para quem tinha ficado
praticamente dois dias lá uma hora não era nada.
Quando o homem chegou, apresentei o futebol na recepção mesmo,
nem sentamos e ele adorou o preço que, perto da Globo, era um troco.
Fechamos um dinheiro que era minha meta mensal por três meses;
o Ricardo e o Ivandir ficaram
contentíssimos, e eu também.
Uma semana depois, tinha marcado na Leo Burnet com o Oscar
Osawa, logo depois do almoço. Dormi na recepção e quem me acordou foi o Jony
Brito, do Jornal do Brasil, que em poucos minutos me contratou.
O Minhoca ficou bravo comigo, mas passei uns quatro a cinco
meses com o dinheiro do aluguel no líquido
do holerite. Sorte que um Big Mac custava R$ 1,00 e muitas vezes era meu almoço
(rsrsrs...).
O bom dessa história foi que aprendi bastante com o senhor e
a senhora que venderam a Jovem Guarda e ainda os vi anos com suas pastas nas agências
e clientes sem a menor prepotência e com a satisfação de terem sido contatos
por cinquenta anos.