sábado, 22 de dezembro de 2012

Rápido é o João Doria JR.


Lembrei-me desta história quando vi no semsura888 o Sílvio Lancellotti, um craque na cozinha e na televisão.
Na terceira ida minha para a TV Gazeta, o João Dória tinha uns três programas na grade, um deles era do Sílvio. Todos os programas eram muito bem feitos, mas tínhamos um problema: só o João faturava ou não faturava – imagine, falar isso do João; acho ele um dos caras mais competentes do mercado do business.
Estes dias, falando com o Pipoca – o Antonio Rebesco, na minha opinião, outro abençoado por Deus e um dos referenciais na TV pública brasileira – sobre o João Dória, ele me disse que até na FAAP, como aluno, ele era exemplar.
Esta história começa uns dois anos antes de 1995.  Minha primeira ex (não coloco o nome dela, se não é capaz de cobrar direitos de imagem) fazia um trabalho de assessoria de imprensa para a Brinks, na época em que os bandidos diariamente assaltavam um carro deles nas ruas de São Paulo. Ali, descobri que os carros-fortes no Brasil são os mais blindados do mundo, mas contra bazuca, AR-15 e outras armas de grosso calibre aquilo parecia papel – um dia, o Boris Casoy até falou isso no ar, no SBT.
Minha ex tinha um parceiro no atendimento da Brinks, ela fazia imprensa e ele uma newslettering. Um certo dia, ela convida a família dele para tomar um lanche e nos conhecermos. Os filhos dele eram da idade dos meus; foi muito legal. Brincaram e conversamos bastante, em um determinado momento o parceiro jornalista de minha ex me fala que eu, trabalhando em TV, deveria fazer um programa com os clientes de informática que estavam entrado no mercado. Tínhamos restrições na importação de computadores e impressoras. Mais ou menos em 1995 isso acabou e Epson, HP, Apple, entre outros, começaram a entrar no Brasil.
Eu e os meninos que na época estavam comigo na Band – Marco Piccolo, Gilberto Corazza e Mauricio Rollo Ribeiro – íamos a todos os clientes, e nos de informática a demanda era maior que a oferta. Nem queriam falar sobre publicidade, e foi o que disse para o jornalista parceiro de trabalho da minha ex.
Meses se passaram, eu volto para a Gazeta e uma semana depois sou convidado pelo João para uma festa lá no Banana Banana –  lembram, eles eram os reis da permuta (rsrsrs...).
Ganhei até um ursinho de pelúcia que dei pra ex, quando cheguei em casa. Contei a ela que o João Dória estava lançando um programa de informática aos domingos, dia em que a Gazeta praticamente só veiculava programas independentes. Nem me liguei no papo do jornalista, meses atrás.
Passaram-se umas três semanas, chego em casa, minha ex chorando. Havia tido uma reunião com seu parceiro jornalista, o cara gritou com ela, me chamando de charlatão, que eu havia copiado a ideia dele e acabaram com a parceria na Brinks. Disse ela que quase foi agredida. Expliquei a história do ursinho e ela se lembrou de que eu estava há um mês, se muito, na emissora.
Como o cara exagerou na dose, não dava nem para ligar e explicar que o João tinha já três programas e este era o quarto. Deixei barato.
No sábado daquela mesma semana passa de manhã o Sergio Monteiro em casa e me chama para irmos até uma produtora ali perto para ele aprovar um spot para a Trip – o Serginho trabalhou bastante tempo com o Paulinho Lima. E lá fui eu escutar o spot no estúdio de um japonês que era meu amigo também.
Na recepção do estúdio tinha uma Meio & Mensagem, eu peguei para ler e a matéria de capa era: “Esta semana estreiam 3 programas de informática na TV” uma na Manchete, uma na Bandeirantes e o do João Dória, na Gazeta.
Ah, não tive dúvida! Pedi a M&M ao japa, cheguei em casa e escrevi nos brancos do lado do jornal um monte de merda ao tal jornalista, chamei-o de desinformado e grosso. E mandei por fax, que ainda não havia internet.
Imagine, eu teria que ter dado a dica dele a todos no mercado e, pior que isso, nenhum dos programas durou mais de seis meses por falta de patrocínio.
Eu aprendi bastante com esse rolo todo. Sempre abri as minhas reuniões com produtores independentes contando essa história, sem falar o nome do tal jornalista, é claro, se não estaria divulgando o grosso no mercado (rsrsrs...).
Ah, e o João Dória nunca soube que um dia quase minha ex-mulher apanhou por uma das muitas ideias brilhantes dele.

 

 

domingo, 16 de dezembro de 2012

Estadão no Escuro


Estes dias estive com a minha amiga Adélia Franceschini e lembrei-me de uma das melhores histórias sobre administração familiar em veiculo de comunicação.
A Adélia saiu da Abril e foi para o Estadão com a equipe do Orlando Marques e do Augusto Nunes.

Foi a modernização do parque gráfico, assinaturas e muitas inovações e trapalhadas, mas o importante é que o jornal deu um salto – vinha apanhando da Folha e isso para o jornalismo não era bom.

Pouco tempo antes, a Folha lançou seu classificado. O Estadão percebeu que seus anúncios estavam sendo clonados e preparou uma armadilha, colocou um classificado com o telefone do próprio Estadão. A Folha caiu e publicou o anúncio, escancarando a farsa. Lembram? Foi um escândalo e ninguém da Folha falou um “a”.

A cartilha da Folha é perto da de Maquiavel, venderam até assinatura vitalícia na época do seu Frias, e não entregaram, é lógico.

Aí, começou uma batalha que chega à contratação desse time de peso na marginal Tietê.

O marketing atuante e remexendo tudo, criação, cor, anúncios, comercial, formatos e logística.

A entrega dos jornais, que começa na madrugada, com diversos caminhões nos píers, carregando os jornais para São Paulo e o resto do Brasil, e o pátio numa escuridão enorme. As luzes todas apagadas, e a equipe da Adélia, vendo aquilo, pergunta ao responsável:

– Senhor, estas luzes apagadas não atrapalham o carregamento dos jornais?

– Sim, senhora! Mas o seu Ruy Mesquita mandou que fosse feito assim.

O Ruy Mesquita  grande símbolo do  Grupo Estadão e durante muito tempo garantiu a ética e um tipo de governança editorial.

A Adélia, diretora de mkt, teria que perguntar ao seu Ruy o porquê daquela ordem. O Estadão era único, a família mandava, mas era muito desunida.

Até que o dia chegou, e ela, em reunião da qual o seu Ruy participava, perguntou:

– Seu Ruy, por que na saída do jornal nosso pátio, na madrugada, tem que estar no escuro?

E ele pergunta:

– Como, no escuro?

A Adélia explica e ele, atônito, conta:

– Adélia, há uns 20 anos fui lá no pátio às 11 horas da manhã e as luzes estavam todas acesas. Aí, mandei apagar.

A ordem foi cumprida até de noite durante esse tempo todo (rsrsrs...).

O Estadão hoje é outra empresa. Estamos falando de 1989 aproximadamente, mas acredito que muita gente ainda no mercado carrega seu conteúdo no escuro.