Um dos lados da mesa que me deram muito trabalho foram as
vezes que me aventurei na área de circulação, especificamente nas assinaturas
de revistas. Era o ano de 1989, e eu na Feeling Editorial – editora da revista “Imprensa”,
na época uma estupenda publicação que fazia só de publicidade umas cinquenta páginas
mensais. Vendíamos bem em banca e as assinaturas eram um problema.
Éramos bem organizados, tínhamos representantes em todos os estados,
mas em São Paulo as grandes editoras não deixavam espaço para os pequenos e,
por mais que procurássemos, com uma só publicação ninguém queria nos
representar na maior cidade do país, e nós teríamos que resolver esse problema.
Em 1990, tivemos um dos planos econômicos, o plano Collor, e
aí as coisas pioraram. Fazíamos um
evento no Ceasar Park uma vez por mês, e chamamos os melhores especialistas em
assinaturas, lembro que uma delas era a Adélia Francisquini(era diretora de mkt
da editora Abril )e todos falavam que estavam parando seus departamentos, pois
vender era ter prejuízo mês a mês. As empresas não tinham dinheiro no caixa,
pois a ministra Zélia tinha tirado o dinheiro da conta de todos. Estávamos num
dilema, vivíamos de publicidade e ela havia parado também.
Tínhamos uma permuta monstruosa com a Vasp que a Rosana
Roque nossa gerente de publicidade fechou e até nós achamos muito alta( a Rosana
vendia muito). Foi a última vez que fiz permuta com uma companhia aérea (acho
que a Rosana exagerou, rsrsrsrs...). Nosso melhor representante no Brasil estava
em Porto Alegre, um ex-gerente de assinaturas da Visão em São Paulo, gaúcho dos
machos, vendia o dobro de todos os outros estados.
Conversando com ele um dia por telefone, descubro que
acabara de perder seu melhor cliente de assinaturas em Porto Alegre( a Editora
Globo) e seus vendedores estavam indo embora. Fiz-lhe uma proposta de trazer
sua equipe para São Paulo de avião. Imaginem vendedores de assinatura viajando
de avião e não é que deu certo.
Dois dias depois, o gaúcho me liga topando, só teria que
conseguir um hotel baratinho em São Paulo. Mandei nosso “resolve tudo” para a
região da Major Sertório e no fim do dia já tínhamos um andar para os gaúchos.
Vieram doze e o dono da empresa.
Aquilo foi minha salvação e meu desastre diário. O ex-gerente
da Visão, o dono, ficou uma semana e depois eu fiquei com a gauchada. No hotel
eles arrumaram todas as confusões possíveis; fui lá tirar prostitutas com faca
no pescoço de um dos gaúchos; um dia, todos saíram pela porta dos fundos sem pagar,
achando que daria certo, e lá fui eu resolver; no Estadão, fui buscar um, preso
pela segurança, troquei eles de hotel e
ai me chamam as pressas num domingo lá no hotel eles quase puseram fogo fazendo
um churrasco num dos quartos e o que estavam usando de bucha as paginas da
revista Imprensa, e um sem fim de histórias que estes gaúchos me arrumaram em
São Paulo.
Mas uma coisa aconteceu, venderam perto de 22000 assinaturas
de dois anos, façam as contas! Salvaram
a editora e a revista. Se íamos entregar, era outra coisa. A “Folha” na década
de 50 ou 60 vendeu assinatura vitalícia e não entregou. Mas naquele momento era
o que precisávamos e acabamos entregando.
Tínhamos outros problemas, como não sermos roubados na
própria revista. Não tínhamos estrutura para aquela logística de depósitos e
controles, ou os cheques que os clientes, depois do malho dos vendedores, não
entendiam por que haviam emitido e assinado aquele tipo de revista. Tudo era problema,
mas eram muitos, e a grana era à vista na conta.
Os gaúchos ficaram com a editora por muitos anos. Lembro-me
de que dois anos depois ainda tínhamos dois deles e um que havia ido para Goiás
e engravidado uma moça lá – e o pai dela me ligou para ver como resolveria
aquele problema, que não resolvi, é lógico!
Fico imaginando o pepino que deve ser nos departamentos de
assinaturas das editoras com a internet, aquele mundo de gente que tira a meia
sem tirar o sapato e vende revista para quem não sabe ler. Ah, será que as
vendas on-line resolvem estes problemas?
Rsrsrsrsrrsrs.
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