Em 2002, fui convidado para montar uma operação em Salvador
com a Rede Bahia, afiliada da Globo com
a TV Bahia. O convite foi para um canal em UHF, a TV Salvador, que na época não
tinha o menor sucesso comercial e de audiência.
Imagine, quando fui ver no mercado (rua) como era a opinião
dos varejistas sobre a TV, de dez visitados, nove me diziam que a TV não
existia e que era um golpe de paulista!
E fomos para lá ver como seriam as coisas. Na verdade, o que
eles queriam era uma sociedade numa produção de pequenos clientes, pois os
grandes ainda não viam o UHF com bons olhos. Acabamos fechando uma sociedade em
nove horas de operação diária e as outras nove com programação local, produzida
para a TV Bahia, que era reprisada na TV Salvador. Até chegarmos a fazer a
gestão das dezoito horas diárias da TV.
Tivemos muita dificuldade até chegar ao fechamento, pois os
custos eram muito altos e, quando já achávamos que não aconteceria, fechamos
uma permuta com passagens aéreas e viabilizamos o fechamento do contrato.
Eu, como bom exotérico, achei que haveria algo do destino e,
já na primeira ida para entrevistar um batalhão de possíveis vendedores,
produtores e apresentadores, conheci no avião uma senhora benzedeira que estava
se mudando de São Bernardo (SP) para Barreira (BA), de mala e cuia com a
família para montar uma pousada. Naqueles papos de avião, me disse para
procurar alguém em Salvador que pudesse me dar um panorama astral do porquê estava
começando uma jornada em Salvador.
O RH da Rede Bahia, me ajudando, montou uma série de
entrevistas com mais de trezentas pessoas. Fiquei quatro dias sem pôr o pé para
fora do hotel Othon, do quarto para duas salas no térreo e ao quarto novamente.
Eu não conhecia ninguém em Salvador e um amigo, o Luiz Carlos Foz, me indicou
uma paulista que em um dos dias foi almoçar comigo e acabou sendo contratada
para a produção, a Rita.
Imagine o desgaste que foi! Sozinho, passava um vídeo sobre o
que seria nosso projeto para umas quarenta pessoas e contava as condições de
contratação. Depois, quem tivesse interesse ficava para uma entrevista pessoal.
Cheguei a São Paulo doente, uma loucura! O espiritual na Bahia é sem igual, de
dor de barriga a mandingas mil, só morando lá para entender o estado de
espírito dos baianos.
Na tardinha do terceiro dia me liga a tal da Rita e me fala
de uma amiga dela – que também tinha uma filha hiperativa, sobre quem
conversamos no almoço –, que era vidente, morava há anos na Itália e estava de
passagens por Salvador. Seu sucesso, me disse a Rita, era enorme como vidente,
tanto em Salvador como na Itália.
Eu que já havia no avião ficado interessado, naquela hora
liguei para a vidente e marquei um horário para a noite daquele mesmo dia.
A Lúcia me atendeu como todos os videntes, leu os búzios, o tarô
e bem no finalzinho da consulta tirou uma carta, dizendo que era um Mago da Lua.
Eu perguntei o que era aquilo e ela me disse que eu deveria fazer algo exotérico.
E não é que já fazia? Eu lia mão.
Quando sai do Canal 21, fui estudar inglês e MKT na
Califórnia e uma aluna brasileira, senhora já, esposa do mestre cervejeiro da Schincariol,
ganhou da filha um chaveiro que tinha as linhas da vida e começamos a ler uns a
mãos dos outros em inglês. Imagine, até hoje, meu inglês é “meia boca”, e todos
diziam que eu acertava tudo sobre a vida dos outros – e em inglês! Li mão de
alemão, japonês, suíço.
Quando cheguei dos EUA, comecei a ler a mão das mulheres. Estava
separado e isso me ajudou a namorar uma meia dúzia de três ou quatro.
Voltando à Bahia, quando disse à Lúcia, a vidente, que lia
mão, ela me pediu que lesse a dela, e também me disse que acertara tudo.
No outro dia, ainda tinha na parte da manhã um papo com os possíveis
contratados e à tarde, um encontro com a diretora da TV Salvador, a Cláudia
Lima, que eu já conhecia, pois havia feito um estágio comigo em São Paulo no
Canal 21 – e foi por isso que as coisas aconteceram em Salvador.
A Cláudia me pegou no hotel e fomos até o apartamento dela e
do marido espanhol, diretor da Vivo para o Norte e Nordeste, que estava com uma
paulista e a assessora de imprensa. Conversaríamos um pouco, pois eles também
estavam indo para o aeroporto.
Cláudia e eu chegamos no mesmo instante em que o grupo que
estava com o marido e, por coincidência do destino, a paulista que os acompanhava era conhecida
minha a quem não via há muitos anos, o que facilitou as coisas e as conversas
naquele momento.
Contei todas as histórias daqueles dias maçantes, das
entrevistas e, é lógico, sobre a vidente e sobre ler mãos.
Ah, todos ali pediram para eu ler as mãos! E não sei como
falei para minha conhecida que ela poderia vir a ter uma doença. Ela, pálida,
na mesma hora me disse que no carro, vindo para a casa da Cláudia, recebeu uma
ligação do médico dela com a notícia de que estava com aquela doença, e todo mundo
se calou.
Tomamos um belo vinho espanhol, fumamos um charuto cubano e
fomos ao aeroporto. Ninguém mais falou de ler mão. A partir dali, só falamos de
coisas leves e para cima com o astral.
Quando voltei a Salvador, quinze dias depois, já era para
fazer o start up das vendas e descobri que todo mundo sabia dos meus dotes exotéricos.
Nas reuniões, sempre tinha o cliente, sua mulher, as filhas –
e no fim da história acabava lendo a mão de todos e fechando o negócio, é lógico.
Como disse acima, a maioria não acreditava no resultado do canal, mas na Bahia
o exotérico te impulsiona para o futuro e saí ileso. Sorte, se não poderia ser
taxado de charlatão e ser preso! O canal, no início, não dava resultado, mas a
leitura das mãos ... (rsrsrs...)
Isso aconteceu durante bastante tempo, até que me casei com
uma delas em Salvador.
Foram dez anos de TV Salvador e, se tivesse cobrado cinquenta
reais de todas a mãos que li por lá, com certeza estaria rico ou com um
turbante na cabeça, agora, em São Paulo.
Antes de começar a fazer sua venda fale de sexo, drogas e
rock’n’ roll. Ah, e ler mão também funciona (rsrsrs...)!
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