quarta-feira, 10 de julho de 2019

Google: O bem que faz mal


Poucos acreditam que a Google no Brasil vai faturar perto de R$ 100 bilhões em 2019. Em 2012, escutei o presidente, Fabio Coelho , em palestra na APP , contar que naquele ano a empresa faturaria R$ 2,5 bilhões no País, valor que dobraria nos próximos 5 anos; até 2016, R$ 40 bilhões. Se acreditarmos nele, só em 2018, seu lucro foi de 142% sobre o ano anterior.
Hoje, num PIB perto dos R$ 7 trilhões no Brasil, imagine qual a real conta que devemos fazer para que uma única empresa tome do mercado 1/70 do dinheiro do País. A princípio, parece coisa de publicitário doido ou matemático mal informado. Se fizermos a mesma conta sobre os U$ 21 trilhões do PIB americano, o Google lá fatura 1/220. E ainda estamos fazendo o cálculo pelo faturamento global deles.
Na economia americana e pelo investimento feito em ativos, salários, impostos e inovação, estes números não comprometem o Estado. Aqui, tirar todo esse dinheiro de circulação é o maior causador do crash pelo qual passamos. 
Esta receita, se confirmada, teria sua maior fatia dentro das comissões não pagas a vendedores de milhares de empresas, os quais, nestes tempos, usam as ferramentas do empreendimento norte-americano para alavancar suas vendas diretamente, sem intermediários.
Lembro de uma história, em 2001, numa palestra da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Um empresário ao meu lado havia dispensado a equipe de vendas inteira, pois o computador iria fazer este papel, e olha que nem falávamos em Google.
O mercado publicitário perdeu para ela perto de R$ 15 bilhões. Só a TV Globo faturava, em 2015, R$ 16 bilhões. Em 2018, a Vênus Platinada não alcançou R$ 7 bilhões e este dinheiro nem considero como a parte maior da fatia.
Num mercado como dos EUA, uma empresa faturar U$ 110 bilhões globalmente, com um PIB de U$ 21 trilhões, só soma à economia. Num país com o nosso, é um dos fortes protagonistas de ter tirado perto de R$ 50 bilhões de circulação e, sem dúvida, um dos elementos de nossa crise. Uma pequena comparação são os R$ 44 bilhões liberados pelo governo Temer, que fizeram a diferença entre crescermos ou não em 2017/2018.
Tirar R$ 50 bilhões, em poucos anos de consumo, pode, sim, desequilibrar todo um país com problemas como o nosso tem. Os outros R$ 50 bilhões acho que até não influenciariam, salvo o mercado de comunicações, que definhou definitivamente nestes últimos seis anos. Outros também estão agonizando tamanha a voracidade em logística, serviços diretos de vendas, armazenamento de dados, impressos tipo catálogos, a cultura com suas livrarias debilitadas e tantos outros que já se foram e nem notamos. 
Uma das formas para eu chegar a estes números é o quanto a Google paga de impostos no País. Como trabalha com ferramentas de informática, o índice não chega a 10%. Se fosse uma empresa publicitária, pagaria de 17% a 32%, dependendo do lucro e faturamento.
Hoje o Brasil é uma das economias que mais usam esses recursos e a Google tem se aproveitado muito dos nossos paradigmas – logística ruim, cargas tributárias equivocadas e governos corruptos ou fora do prumo.
Num mercado como o nosso, que oferta e demanda pela natureza de nossas desigualdades, produz pouco e por falta ou excesso a economia desanda, alguém retirar tanta grana assim faz um mau maior que o bem que vemos diariamente em nossos computadores.
Se ficarmos sentados e não encararmos a fera americana, ninguém põe este ovo em pé novamente.

 

3 comentários:

  1. Análise perfeita. Vejo que o processo desumano (é o que penso) persistirá, mais é mais.Como consertar tamanha discrepância?

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  2. Taxando impostos neles com destinos previstos para o fortalecimento de tecnologia realizada no Brasil que tenham retornos que compensem as perdas.

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