Quando fui morar em BH, em 1983, meu primeiro filho Caio havia acabado de nascer.Vida difícil de pai fresco e sem experiência nossa diversão era trabalhar e cuidar de filho. Os dois primeiros anos foram na Opec – Operações Comerciais, da Globo Minas, a área que coloca os comerciais que foram vendidos no ar (não é só isso, mas dá para entender assim). Como já contei em outra história, fui como gerente e dois anos depois fui convidado pelo Talardo José dos Santos, gerente de venda de publicidade, e o diretor de mercado, Sinval Itacarambi Leão, para ser contato de publicidade e topei logo. Ganhava uns oito salários mínimos e iria ganhar uns quarenta, era naquele momento o que eu enxergava. Percebi o quanto iria ganhar quando minha mãe me ligou, perguntou o salário e eu falei; logo em seguida, ligou meu pai perguntando se eu não estava fazendo nada errado. Eu disse que o dinheiro vinha no holerite ou contracheque. E aí ele sossegou.
Quando fui para a venda de publicidade já sabia como era o mercado. A Opec tem a visão geral de tudo, quanto é o desconto, a verba anual, quais as periodicidades dos clientes, é o mapear da mina. Poucos dias antes de passar para vendas, já olhava o segmento de mercado que iria atender. Poucos anos atrás, o Comercial na Globo era recortado por atividades de mercado, varejo, indústria, cultura e lazer, vestuário e têxtil, agropecuário, bebidas, automóveis, imobiliário. E eu iria atender os setores de vestuário e têxtil, cultura e lazer. Dei-me superbem, fiz umas parcerias entre as confecções, os donos de shows e atrações top de linha. “A Divina Decadência”, uma das grifes pioneiras de moda despojada, com o BB King, e coisas dessa natureza. As feiras de moda, no setor de cultura e lazer, davam coisas alegres e divertidas o ano todo com o TV Mulher – em moda da Amalia Rocha e no Jornal Hoje com a Cristina Franco , ambas minhas brodinhas na época de BH. Festas e bebedeiras em nossos stands com free geral até de manhãzinha todos os dias. Vida dura aquela! Mas fazia dez visitas por dia e o Talardo ainda ligava para ver se tínhamos ido às agências e clientes, era duro .Tive dois gerentes assim o mineiro e o Jony Brito no Jornal do Brasil os mídias dos dois estados devem se lembrar.
Mas nossa história hoje diz respeito ao Espírito Santo, especificamente a Cachoeiro do Itapemirim, cidade do Roberto Carlos, da Itapemirim. Mas para mim, o importante foi a Calçados Itapuã e Tupã, que está firme e forte até hoje na indústria e no varejo de calçados e que estava começando uma briga entre sua indústria e o varejo da grande Elmo de BH, padrão de organização na época (pelo visto, a Itapuã ganhou a briga, como já contei em outra história neste blog).
Quando comecei a atender, a indústria de Cachoeiro do Itapemirim eu era baseado em BH e a Itapuã já anunciava com a TV Globo, mas só em Salvador, um flat de uns três meses por ano, de junho a agosto.
Fiz um planejamento estratégico com à agência e uma defesa bem estruturada e fomos a uma reunião com o dono de lá, Sr. Severino. Imagine, logo que fui apresentado, ele me disse que não gostava de surpresas e me perguntou se ficaria para almoçar. Respondi que sim, e contei o que eu havia preparado para a reunião (rsrsrsrs...): o patrocínio do Cassino do Chacrinha nacional. Ele me respondeu: “Ah! Ele e eu somos da mesma cidade, em Pernambuco”.
Todo mundo que estava tomando cafezinho parou; eu senti que ali já havia indícios de nós vendermos pro homem o patrocínio.
Fizemos a apresentação dos números, das adequações e quando terminamos fomos discutir a proposta no almoço, que foi na beira da estrada, num sujinho, com as toalhas de mesa com manchas do tamanho da mesa, com a moqueca capixaba mais gostosa que comi na vida, de lagostim. Eu, as atendimentos, duas lindas meninas, e um assessor do seu Severino. (comemos as lagostins com as mãos e foi isso que ele gostou na gente)
Em um determinado momento no almoço o próprio Severino, faz sua defesa do Chacrinha. Nas tardes de sábado, logo após o almoço, tinha a sessão Bang Bang, e das 16h às 18h o Abelardo Barbosa com seu tradicional alvoroço. “É isso sim”, falou seu Severino. Depois do almoço, dormimos no sofá e acordamos com a barulheira do Velho Guerreiro, todos os presentes deram risadas e partimos para a negociação.
No fim do almoço, quase só falamos de coisas engraçadas, e aí veio a mordida do comprador, se em vez de seis meses fosse um ano e o desconto, de 7% para 12%. Chorei em 10% e acabamos em 11% por um ano. Para se ter uma ideia, o homem ficou oito anos patrocinando o programa, até o seu fim. Eu mesmo só trabalhei em BH por quatro anos.
Ter todos os meses um faturamento que só vinha três vezes ao ano era uma glória; e uma façanha, descobrir um cliente nacional em Cachoeiro do Itapemirim.
Ah! Na volta daquele dia, ainda estourou o pneu do carro da moça da agência de Vitória e tivemos que dormir em uma praia entre Vitória e Cachoeiro , Guarapari . Foi bem legal. (bobão)
Duas coisas na minha vida me ligaram ao Chacrinha minha mãe me conta que meu avô José Gamarano tinha uma fabrica de meias que se chamava Tatu e que foi a primeira patrocinadora do programa e a outra é surreal, nos meus contatos com o Sr. Severino uns dez anos depois. É nós só trocávamos cartões de Natal durante este período e um dia, quando dirigia a TV Gazeta de São Paulo, pedi para minha secretária ligar para ver como o homem andava. Então, entra a Tereza branca em minha sala e diz que aquele dia era o velório do meu patrocinador e do Chacrinha. Não me despedi do senhor que patrocinou a alegria do Velho Guerreiro. Liguei um dia depois e até hoje penso porque não liguei alguns dias antes. Foram muitas coincidências em nossas vidas e por um dia não falei com ele mais uma vez.
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