Perto da Eco 92 ainda nem sabíamos direito o que era
reciclável, reciclado e termos que hoje são tão conhecidos de todos nós.
Fiquei um pouco preocupado dias destes, quando descobri que
perto de 70% dos brasileiros não sabem o que é atitude sustentável ou ação
sustentável, mas chegaremos lá. As empresas e as pessoas estão melhorando o entendimento do
que o planeta necessita .
Dois dos personagens desta história são o Rogério Ruschel e a
Vera Giangrande. Ele, hoje, consultor de Sustentabilidade, mas na época era planejamento de uma grande agência de Relações Públicas , a
AAB, do grupo Ogilvy, e a competentíssima Vera, já falecida, mas a personagem
pioneiríssima de Relações Públicas no Brasil.
Era 1991 e eu, publisher da revista “Imprensa” no auge de sua
credibilidade e da minha como
profissional. As ideias eram tantas e com os personagens eram bem mais fácil de falar e apresentar nossas ideias -- não como hoje, que há dias
tento marcar uma reunião com um profissional da publicidade; já falei com o cliente dele e vou acabar
mostrando o projeto antes ao cliente que a ele. Mas a vida parece que anda rápido só para
alguns e não para todos nós mortais (rsrsrs...).
Voltando à Eco 92 ,tive uma ideia maravilhosa para a época: encartar na revista “Imprensa” um glossário de
termos ecológicos em português e distribuirmos na Eco em inglês . Convidamos o Rogério Ruschel para escrever,
que atendeu prontamente nosso convite --
sei que tem um exemplar em sua casa, único, pois nem a própria editora tem um
exemplar sequer.
As redações teriam que conhecer aqueles termos tão comuns
hoje, mas que na época eram “ecolomês”.
Aprontamos o projeto e lá fui eu vender, mas para minha sorte
estávamos fazendo aniversário e na festa comentei com a Vera Giangrande e ela
me falou que venderia aquela ideia ao McDonald’s. Eles, em 1991, ainda eram
pequenos no Brasil e revista não seria a mídia ideal, mas a Vera era a dona do
mercado de RP e fui na dela.
Passaram-se uns dois dias
e a Vera me ligou e me mandou falar com o diretor de MKT do McDonald’s, o
Luiz Mario Bilenky, que tinha sido da Fotótica -- ele e o Marcos Gaiarça -- em cuja conta eu havia trabalhado quando era da
DPZ e já nos conhecíamos.
Cheguei lá e o Bilenky olhava, olhava e não falava nada. Ele era
metido, mas certeiro, e disse: “Se você
fizer em papel reciclado eu aprovo já”. Disse que iria ver como faríamos e
corri para a editora. Quando cheguei lá ainda liguei para perguntar se era
reciclável ou reciclado e tomei uma bronca do Bilenky: “Reciclável todos são”, quase me chamou de burro, o que, na real, eu naquele
momento fui.
Corri atrás do fornecedor de papel reciclado, a Tanure, no
Rio de Janeiro. A gráfica Abril me disse
que era a primeira vez que eles imprimiam em reciclado, o que foi uma aventura,
pois papel rasgava muito fácil.
Fizemos a lição de casa e o cliente fez a dele e aprovou o
projeto.
O Luiz Mário Bilenky era daqueles que inovavam muito imprimiu a
marca do McDonald’s em verde em vez do
vermelho -- foi a única vez que vi isso em se falando da multinacional dos
sanduíches.
Tudo ia bem até a hora de colocar o grampo. As máquinas da
gráfica Abril pipocaram e tivemos que correr para outra gráfica com as máquinas
de grampear diferentes e que não rasgariam mais papéis.
Quem trabalha com revista sabe tudo: é na última hora e nós,
para variar, estávamos a poucos dias de perder a data de faturamento.
Mandamos uma Kombi com a secretária do Comercial buscar e
levar de volta à gráfica Abril. A
Adriana (ver história “Pomba Gira”), que no trajeto pega uma pagina e
lê, justamente aquela em que o presidente do McDonald’s fazia a apresentação -- e
não é que havia erros de digitação ou datilografia? E tudo atrasado, ficou pior
ainda.
Liguei na fabrica de papel, não tinha mais. Indicaram-me a João Fortes Engenharia, que comprara um
lote há poucos dias. Falei com um dos filhos do João, que me cedeu duas resmas
que me salvaram a vida.
A Adriana ainda não era alcoólatra e me salvou a pele
diversas vezes nos dezesseis anos que trabalhamos juntos.
Fomos os primeiros na imprensa nacional a imprimir em papel reciclado. Os créditos são do Mcdonald's ,
Rogério Ruschel, Luiz Mario Bilenky,
Adriana Batistini, Gráfica Abril e, é lógico, com homenagem especial para Vera
Giangrande, que 24 anos atrás já
enxergava a importância da sustentabilidade, termo que nem estava no glossário,
o ator principal deste texto.
Hélcio, muito bom resgatar partes da nossa história. Até hoje não sabia como você havia viabilizado o encarte e nem me lembrava da grande ajuda a Vera Giangrande. Vou complementar teu post para teus leitores teham mais um pedaço dessa história – até porque, modestamente, acho que é parte da História da sustentabilidade no Brasil.
ResponderExcluirO folheto com 16 páginas que o Hélcio me encomendou se chamava “Glossário Ecológico” (e em inglês, “Ecological Glossary”), foi encartado na edição de junho de 1991 da Revista Imprensa e tinha uma carta de introdução assinada pelo Gregory J. Ryan, Presidente do McDonalds – e agora, suspeito, provávelmente escrito pela Vera Giangrande. E sim, Hélcio, tenho um exemplar...
O encarte foi idéia do Hélcio, como sequência natural de um curso que havíamos realizado no primeiro semestre daquele ano. Explico. Em 1990 eu era professor de planejamento de comunicação no Pós-Graduação da ESPM em SP e como muitas pessoas estava preocupado porque em 1992 o Brasil iria sediar a Eco92 e todos suspeitavam que nossos jornalistas não estariam preparados para tal.
Conversando com meu chefe, o Prof. Francisco Gracioso, sugeri organizarmos um curso para preparar jornalistas. Visionário, ele topou, só que a ESPM pagaria só uma parte, e teríamos que buscar complemento do orçamento em algum patrocinador (e registre-se: pelo que me lembro, não conseguimos...). Busquei parcerias estratégicas: a revista Imprensa (Sinval Itacarambi Leão, Hélcio e Gabriel Priolli), sindicatos de jornalistas e a Fundação SOS Mata Atlântica.
Passei o segundo semestre de 1990 montando o tal do curso: naquele tempo não tinha internet e escrevi cerca de 50 cartas ou faxes para empresas, universidades e centros de pesquisa do mundo inteiro, um delírio. Mas deu certo: recebi muita informação e o curso, realizado no primeiro semestre de 1991 teve uns 60 inscritos e mais de 40 palestrantes entre pesquisadores, empresários e jornalistas.
As aulas era semanais, às segundas-feiras, cada uma delas enfocando um tema e cada tema sendo apresentado por 4 a 6 palestrante/fontes. Utilizamos o auditório recém-inaugurado da nova sede (na Álvaro Alvim, hoje Campus Prof. Francisco Gracioso). Os palestrantes podiam receber uma pequena ajuda de custo (e se fossem de fora de São Paulo ainda pagávamos as despesas), abrir mão de cachê, ou ainda doar seu cachê para a SOS Mata Atlântica (a maioria fez isso). Não teria conseguido fazer o curso - que durou umas 12 semanas – sem a ajuda da Janine Saponara, então funcionária da revista Imprensa e hoje diretora da Lead Comunicação, que me ajudou intensamente na secretaria. Evidentemente, o curso não deu lucro e nem esperávamos por isso: a ESPM e eu apostamos na necessidade e todos trabalhamos práticamente de graça, éramos todos voluntários da necessidade, profetas de novos tempos...
Com o sucesso em São Paulo sindicatos de jornalistas de minas Gerais, Curitiba, Porto Alegre e Salvador também queria sediar um curso similar. Mas isso era impossível porque ninguém conseguia patrocinador. Foi aí que o Hélcio teve a grande idéia de fazer o encarte para que pelo menos parte do conteúdo do curso pudesse chegar a jornalistas de todo o Brasil. Na época eu estava começando a escrever um guia de ecologia para venda em bancas, encomendado pelo Aydano Roriz da Editora Europa (que seria publicado no início de 1992 com o nome “Guia Ruschel de Ecologia”). A partir das anotações deste livro e do curso na ESPM preparei o “Glossário Ecológico” que o Hélcio Vieira conseguiu tirar do campo das idéias, como relembra no post.
Este curso e o encarte do Hélcio seriam a semente do primeiro módulo acadêmico sobre Desenvolvimento Sustentável da América Latina, que montei em 1994 com o apoio do Prof. Gracioso. Mas isso já é outra história - ou talvez História – e chega de invadir o blog do Hélcio.
Achei bem legal seu comentário em 24 h já estamos na primeira página do Google de 171 000 000 posts.
ResponderExcluirE como está escrito fomos os primeiros a publicar na imprensa em papel reciclado ideia do Luis Mario.
Ahhh a Vera não me deixou apresentar a mais ninguém só ao Mcdonald's.
Olá! Onde acho o link para acessar este Glossário? Se é que há...
ResponderExcluirwww.semsura888.blogspot.com.br
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