domingo, 7 de outubro de 2012

Dia de fúria em uma TV

Sempre digo que me arrependo do que não fiz, do que fiz não me arrependo. E esta história eu tinha que contar, mesmo com alguns nomes ficando de fora. Quem trabalhava neste período no mercado sabe de quem estamos falando.

Era já a terceira vez que o Luiz Fernando Taranto  – superintendente da Fundação Cásper Líbero – me chamava para trabalhar lá. O ano era 1996. Cheguei e fiz uma coisa que o Paulo Saad fez quando substituiu o Orlando Marques na Bandeirantes:  troquei todo mundo de sala e lugar e promovi a gerente três contatos, o Gilberto Corazza, o Marco Piccolo  e o Márcio Loducca – e o Luiz Carlos Stein de diretor, segurando a barra. Eu queria vê-los se matando; um era mais competitivo que o outro. O Piccolo brigava até no par ou ímpar; o Corazza, quem trabalhou com ele sabe; o Loducca também não era bonzinho. No dia seguinte, todos sabiam que a direção havia mudado.
Chegamos à CNT Gazeta o Stein e eu. O Stein quase me mata, pois falei que devia ter de um milhão e duzentos a um milhão e quinhentos por mês e na real tinha quatrocentos mil. Ele ia ganhar menos que na Editora Azul, com o Ênio Vergueiro, mas convenci o moço de que em dias estaríamos com um milhão e oitocentos a dois milhões. E não demorou muito – uns dois meses e já estávamos lá.
Naquela época, as televendas faziam a diferença, e eu era amigo de todos eles, a maioria convencida por mim a entrar no ar. Todos tinham uma cumplicidade comigo não falávamos de espaço, falávamos de dinheiro.
Mas a história foi uns seis meses depois que voltei e já todos estavam familiarizados comigo e com as gerências.  A disputa era ferrenha. O Stein e eu fomentávamos a competição entre as equipes e a coisa funcionava. Éramos um time, fazíamos festa todas as noites no Mexicano e tumultuávamos o mercado com a CNT Gazeta. A diferença eram o atendimento e os projetos. Nós podíamos tudo, era a época em que a Globo e o SBT não podiam nada, a Bandeirantes sempre cheia e não existia mais nada – a Ana Maria dava 1 ponto na Record  .Foi o ano que a J&J ganhou o ouro em mídia em Cannes anunciando no programa Mulheres um projeto nosso.
Em determinado dia, o Gersom Alvin, contato nosso, me diz que conseguira marcar uma reunião com o Rei das Televendas, de quem já falei aqui, numa história só sobre ele. Estava voltando mais uma vez, dentre tantas em que ele quebrava e voltava com outro sócio.
Imagine, ele já até estava anunciando com a gente e eu não sabia, nem ninguém!  Só soubemos quando estávamos com ele na reunião. Cheguei e lá estava seu Honor Rodrigues me esperando (ver O Rei do Televendas).
Pronto como sempre, montamos um plano enorme de veiculação e o Gerson, já contando a comissão. O novo sócio do Honor chama alguém para fazer os mapas e entra uma menina linda, jovem, ainda uns 24 anos e me apresentam a ela. Quando o Honor acabou de falar que eu era o diretor da CNT Gazeta, ela começa a gritar comigo sobre um concorrente dela que estava veiculando um desses pets de parar de fumar antes dela e com mais frequência, e eu, sem saber quem era aquela menina, ia mandar ela... Aí, o sócio do Rei do Televendas levanta e diz: “Não, é minha filha!”. Branco total, a menina gritando e eu nem sabia o porquê. Levantamos e fomos embora. O clima ferveu e a menina descontrolada continuou gritando.
Quando cheguei à Gazeta tinha telefonemas e até umas flores de agradecimento, pois ninguém reparou que eu ia falar um palavrão e passei ileso. Garantimos uma grana enorme no basquete do mês.
Naquela época, o Roberto Avallone estava doente e levava até a médica dele no “Mesa Redonda”, e também andava arrumando confusão no andar do Comercial. Naquele dia, mandei ele, doidão, embora, pois estava falando mau de mim na sala de uma das gerências e, como eram divisórias de biombos, eu estava atrás e escutei tudo. Eram umas 17 horas e, sorte, não havia contatos. O Avallone é amigo meu até hoje naquele momento estava bem doente mesmo.
Aquele dia não devia ter existido. Eram umas 19 horas e no grupo do Gerson o gerente dele ainda não sabia da nossa façanha com o Rei do Televendas. Estávamos conversando, quando ele chegou e falamos do que havíamos faturado. Ele também começou a gritar comigo e eu fui andando para minha sala e fechei a porta. E não é que ele derrubou a porta? Para minha surpresa, o Stein tinha ido tomar café na copa dentro da sala e quando a porta caiu ele estava lá dentro também.
Que merda de dia! Aquela pressão que impúnhamos dava certo no holerite, mas ferrou muitas amizades bacanas. Tudo aquilo foi muito punk. Comenta-se disso até hoje. Quando encontro subordinados de nossos contatos e gerentes, eles me falam sobre os métodos que são comuns até hoje, que seus chefes comentam (rsrsrs...).
A vida em uma televisão é uma tempestade em alto mar o tempo todo ,principalmente se você tem um barquinho para navegar dentro dela( CNT Gazeta) , se tiver um transatlântico como na Rede Globo é uma tempestade também com melhores condições de suportar.
Tive que mandar embora ou degolar, como falo desde o começo da profissão, um dos melhores amigos e profissionais que conheci. E, é lógico, nunca mais fomos amigos como éramos.        

Um comentário:

  1. Eu não acredito! Preciso fazer um comentário: nesse dia, nessa hora eu estava com um super problema de material, trabalhava no Propaganda Registrada e precisa trocar um comercial de um cliente em todas as emissoras, consegui falar com esse nosso amigo por telefone, fui explicando calmamente o meu problema quando ele começou a berrar totalmente transtornado: agora não dá, não posso falar, agora eu vou matar o Hélcio!!!!!
    Só no dia seguinte é que eu soube que você ainda estava vivo! Rssssss

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