domingo, 16 de dezembro de 2012

Estadão no Escuro


Estes dias estive com a minha amiga Adélia Franceschini e lembrei-me de uma das melhores histórias sobre administração familiar em veiculo de comunicação.
A Adélia saiu da Abril e foi para o Estadão com a equipe do Orlando Marques e do Augusto Nunes.

Foi a modernização do parque gráfico, assinaturas e muitas inovações e trapalhadas, mas o importante é que o jornal deu um salto – vinha apanhando da Folha e isso para o jornalismo não era bom.

Pouco tempo antes, a Folha lançou seu classificado. O Estadão percebeu que seus anúncios estavam sendo clonados e preparou uma armadilha, colocou um classificado com o telefone do próprio Estadão. A Folha caiu e publicou o anúncio, escancarando a farsa. Lembram? Foi um escândalo e ninguém da Folha falou um “a”.

A cartilha da Folha é perto da de Maquiavel, venderam até assinatura vitalícia na época do seu Frias, e não entregaram, é lógico.

Aí, começou uma batalha que chega à contratação desse time de peso na marginal Tietê.

O marketing atuante e remexendo tudo, criação, cor, anúncios, comercial, formatos e logística.

A entrega dos jornais, que começa na madrugada, com diversos caminhões nos píers, carregando os jornais para São Paulo e o resto do Brasil, e o pátio numa escuridão enorme. As luzes todas apagadas, e a equipe da Adélia, vendo aquilo, pergunta ao responsável:

– Senhor, estas luzes apagadas não atrapalham o carregamento dos jornais?

– Sim, senhora! Mas o seu Ruy Mesquita mandou que fosse feito assim.

O Ruy Mesquita  grande símbolo do  Grupo Estadão e durante muito tempo garantiu a ética e um tipo de governança editorial.

A Adélia, diretora de mkt, teria que perguntar ao seu Ruy o porquê daquela ordem. O Estadão era único, a família mandava, mas era muito desunida.

Até que o dia chegou, e ela, em reunião da qual o seu Ruy participava, perguntou:

– Seu Ruy, por que na saída do jornal nosso pátio, na madrugada, tem que estar no escuro?

E ele pergunta:

– Como, no escuro?

A Adélia explica e ele, atônito, conta:

– Adélia, há uns 20 anos fui lá no pátio às 11 horas da manhã e as luzes estavam todas acesas. Aí, mandei apagar.

A ordem foi cumprida até de noite durante esse tempo todo (rsrsrs...).

O Estadão hoje é outra empresa. Estamos falando de 1989 aproximadamente, mas acredito que muita gente ainda no mercado carrega seu conteúdo no escuro.

 

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