Uma das coisas boas na minha vida profissional e familiar
foram as mudanças de cidades e estados que, por ser filho de militar, fui
obrigado a aceitar, e, na minha opinião, me deu esta facilidade de conviver
sempre com novas aventuras . Tinha que fazer amigos rapidamente na adolescência.
Não tinha tempo a perder, pois mudávamos de dois em dois anos.
Na vida profissional morei, além de São Paulo, em Belo
Horizonte e Salvador – e também costumo dizer DF, onde fica a Secom (Secretaria
de comunicações do Governo Federal).Todos
que trabalhamos no comercial temos que ser local lá, caso contrário não
atendemos o maior cliente do mercado (temos representantes, mas na maioria das
vezes é DF, é assim, mentirosa até na publicidade e propaganda... rsrsrsrs).
Quem vende somos nós – desculpe-me os representantes. (Para um deles até devo
uma grana. Vendi muito para ele, perdi o representado e ele não, pois já o atendia
depois de mim.)
Esta história se passou em BH, na Globo Minas: Ives Alves,
diretor regional; Placeres, diretor de programação, e Sinval de Itacarambi Leão,
diretor de mercado anunciante.
Fui para lá convidado pelo André Barroso, com o aval do
Evandro Guimarães. Quem me levou lá foi o Evandro, um bom amigo, poderoso, mas
se encontrar no aeroporto é um lorde. E o Andre, já era a segunda vez que me contratava.
Um dia, a Diana da Opec São Paulo me chama na sala dela
quando estava fazendo um estágio – na Globo SP com a Opec do Celso Coli, na época
– e me diz: “Ninguém quis ir para BH. Encontraram você que não está sabendo dos
problemas da saída do Marco Aurelio para a cabeça da rede no Rio, e no lugar
dele promoveram o Nova Lima.” Lá tem um baita problema, imaginei. Cheguei até a
ligar para o Magrão da DPZ, mas, sorte, ele não estava. Nem tinha ido e já
queria voltar para a DPZ.
Fiquei uma semana ou duas em São Paulo na Alameda Santos,
ainda ali do lado da Sabesp, e fui com a família para a Globo Minas, do Ives para muitos e do Sinval para o
mercado. Me dei super bem com todos lá e o problema é que o Nova Lima (apelido
do segundo do Marco e nome de uma cidade
dormitório de BH)não peitava o comercial,
tudo ele ia resolvendo e ninguém na época fazia nada errado. Ele fazia o
que mandavam. Tínhamos os protocolos, as regras – e quando passamos a implementá-las
conforme a bíblia da Globo , as coisas
foram melhorando. Éramos o desconto mais
alto de toda a Globo. Juro! Apareciam nos relatórios uns 53%. Quando arrumamos tudo,
fomos naquele ano o menor desconto do mercado, uns 7% em média. (Ah! Desconto
alto na Globo é pior que falar mal do chefe... rsrsrsrsr) Era assim quando
trabalhei lá. Ninguém estava fazendo nada de errado lá em BH. O Nova Lima é que
com a inteligência dele burlava o Cpultador (computador) – chamei assim alguns dias, assim, pois sepultou a vida do Nova Lima.
Mas a história é sobre o maior varejista de calçados
daqueles anos de Diretas Já. O Sinval, como todo bom anarquista, levou a equipe
inteira do comercial da Globo Minas de terno e gravata para ver o discurso do
Tancredo na Praça Sete, em BH.Lá no palanque, o Osmar Santos, Fernando Henrique
,Lula e todos que fizeram deste país uma
democracia.Esse discurso passa sempre na TV e eu falo aos meus filhos que eu
estava lá.
Mas vamos à história. A Elmo mandou no mercado de calçados
no Brasil durante anos. Para se ter ideia da força deles, nenhuma fábrica de
calçados fazia um lançamento antes de estar nas lojas da Elmo, da família Ballesteros.
Os grandes fabricantes de calçados, mesmo sendo em Novo Hamburgo ou qualquer
outra cidade do país, tinham suas agências de publicidade em BH: Grandene ,
Kildare, Francesinha, Piccadilly entre muitos outros fabricantes. Ah... as agências
eram a Setembro, do Almir; a Arte Vendas; A MPM de BH – do Petronio, mas em BH
do Zé Luiz, o mídia da agência.
A prepotência da Elmo era maior que a da Globo na época. Para
se ter uma noção do poderio deles, dividiam a verba de publicidade em TV da seguinte
forma: 25% Globo, 25% SBT, 25% Manchete
e 25% Bandeirantes .
Puseram-me para atender a Elmo. Eu escutava deles que um
paulista estava tirando o emprego de um mineiro. Era brincadeira, mas tinha um
fundo de verdade, ironia e provocação. Mas fui “ganhando eles”. Jogava bola com
eles no sábado na casa de um dos filhos, o Heloi. O Paulinho, que cuidava da publicidade,
também cuidava do bolão semanal da Loteria Esportiva, para a qual logo entrei
com uma cota. E fui ganhando os caras.
Convenci a direção da Globo de que deveríamos arriscar e
vender para eles algo grande, com um desconto enorme (não dávamos desconto à
Elmo). Ao mesmo tempo, peguei o maior inimigo deles, a calçados Itapuã, de
Cachoeiro de Itapemirim, do Espírito Santo, fabricante e varejista. Fiz uma
enorme defesa e vendi para o seu Severino, único dono e o caneta lá, o
patrocínio do Cassino do Chacrinha nacional. Por sorte, ele era da mesma cidade
do Abelardo Barbosa, o Chacrinha, e patrocinou o Cassino durante uns oito anos, até o Chacrinha sair do
ar. Eu só estive quatro anos em BH.
Com isso, vendi em dezembro, janeiro, fevereiro umas dez
inserções diárias à Elmo, o que significou tirar a verba da concorrência dali pra
frente. Coisa de ex-mídia da DPZ, frequência e cobertura um dia, frequência e
cobertura a vida toda naqueles tempos. Se não as vendas caíam. Eles tentaram,
mas aí era tarde.
Mas vamos para a Elmo! Um determinado dia, como fazia sempre
antes da reunião, para arrumar argumentos sólidos, corri à loja onde ficava a sede
– até escadas rolantes tinham nas lojas de calçados – e procurei uma sandália Havaiana.
Não achei.
Quando estava na reunião com o Paulinho do marketing,
perguntei onde ficavam as Havaianas, e ele me respondeu que vender aquelas
sandálias de dedo denegriam a imagem da Elmo e que era um produto sem expressão
comercial.
Quase a minha vida profissional fiquei na minha sobre esse assunto. Em BH tinha 27 anos então,
27 anos atrás. Há uns anos me disseram
que a Elmo praticamente não existe em Minas e que a Calçados Itapuã “comeu eles”
em Minas e no Espírito Santo – o forte deles eram aquelas sandálias de couro,
até hoje vendidas bem na Bahia.
Imaginei que aquele grupo poderoso e dominador nunca seria batido,
mas foi. E melhor ainda, as sandálias de dedo passaram a ser moda mundial e a SPASA,
antes Argentina, agora tira sarro dos argentinos na publicidade da Havaiana, em
vez de tirar uma com quem nem os comprava.
Nenhum comentário:
Postar um comentário