Morei quatro anos em Belo Horizonte na época em que a Fernão
Dias era um lixo. Quando vinha a São Paulo de carro com a família, não dormia
direito uns três dias antes – a estrada me dava medo. Sei exatamente quantas
vezes a peguei: dezessete idas e dezessete voltas.
Esta história tem a ver com velocidade, compromisso e negligência
ao volante e se passou entre 1982 e 1986 na volta de um Carnaval que vim passar
com a família em São Paulo.
Trabalhava na Globo Minas – anos bons, dos enduros da Liberdade e Independência,
patrocinados pelo brim Santa Rosa, desenvolvidos pela equipe de mkt da emissora
e seus diretores (já falamos disso em outra história). Nosso gerente de vendas
era o Talardo José dos Santos. Pegava forte com a equipe e uma das coisas que o
irritavam era a volta do Carnaval. O RH mandava estarmos às 12h da Quarta de Cinzas
na emissora, e o Talardo lembrava isso uma semana antes do feriado.
Nós, bons contatos, em diversas oportunidades chegamos às 14h
e ele ficava muito bravo. A equipe era ótima: Carlos Doné (hoje, na Rádio Itatiaia),
Jorge Calabria, Dejair de Almeida Toscano e o Mario Neves (hoje, SBT Minas). Desafiar
o Talardo era para macho e quem esteve lá sabe que mesmo com o bom salário que
tínhamos éramos fortes e de opinião, na maioria dos carnavais chegamos às 14h.
Quando chegamos às 12h, ele fez reunião até às 14h e queria
que visitássemos as agências que emendavam a Quarta. Foi um desastre os quatro carnavais
que passei quando trabalhava em BH.
Como falei acima, tinha medo da estrada e para chegar de São
Paulo em BH na quarta-feira saía às 4 da manhã e corria que nem um louco
naquela estrada capenga e sem a menor condição de viagem – imagine a 150 km/h.
Num desses carnavais fiz o recorde na Fernão Dias – seis
horas – e fui personagem logo à tarde em uma agência que, descobri, não
emendaria o feriado. Era a Staff, do José Maria Vargas, hoje um dos
diretores da ANP, onde eu tinha as portas abertas. Naquela quarta de cinzas só
o Zé trabalhava.
Quando estava lá, chegou o contato da Rádio Globo, o Carlos
Henrique Nascimento – que o mercado conhece, trabalha na TV Globo SP,
transferido a muitos anos de Minas – e me perguntou se eu estava na estrada
pela manhã.
Eu disse que sim e ele meio sem jeito me falou: “Hélcio,
trabalhamos no mesmo prédio e você tem dois filhos, não era melhor não correr
tanto na estrada? Estava com meus pais e vi você ultrapassar uma ‘cegonha’ (caminhão
que transporta carros) e mais quinze a vinte veículos atrás dela em uma subida,
a uns 150 por hora”.
Eu, sem jeito pela travessura sem sentido, tentei minimizar o
que não dava para minimizar (tipo batom na cueca), e falei que a culpa era do
Talardo, como todos no mercado o conheciam, e passei batido com o jovem Carlos
Henrique na época.
Os meninos do sistema Globo de radio BH, fizeram história em
São Paulo o Carlos Murilo Moreno ( ex Fiat
hoje Nissam )também veio de lá.
Até hoje, quando estou em estrada, lembro-me desse momento,
de uns anos para cá não pego estrada longa, pois corro muito, fico ansioso e
sem responsabilidade.
O meu gerente na época não tinha culpa de nada. Eu é que
sempre corri nas estradas.
Hoje não pego estrada de mais de duzentos quilômetros, mas,
mesmo assim, ainda corro mais que o normal.
Mas sempre lembro que posso passar a vergonha que passei na
Staff, a única agência aberta na quarta de cinzas e cheia de contatos de outros
veículos na recepção excepcionalmente naquele dia.
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