Esta história se torna atualíssima, pois estão envolvidos
nela dois personagens que nestes dias não saem dos noticiários políticos e policiais.
São publicitários mineiros que eram meus clientes na década de 1980, em Belo Horizonte,
e jamais imaginariam, na época, em que iriam se meter na história da
publicidade e da propaganda.
Estamos falando de 1986 ou 1985, eu, contato na Globo Minas.
Era o começo do desmoronamento da guerra fria, e isso é importante, pois
falaremos dos Jogos da Amizade que aconteceram na Rússia, em Moscou, e em Los
Angeles, nos EUA.
Os Jogos da Amizade faziam parte da aproximação dos dois
países poderosos, que acertaram fazer uma Olimpíada particular para comemorar o
sucesso de suas negociações políticas.
A Rede Globo comprou o evento e nós tínhamos que vendê-lo, e
foi o que eu armei com o único cliente em condições de comprar algo valendo na
época um milhão de dólares, a Tecelagens Santa Rosa.
A agência era a SMP&B, na época, donos, o Cristiano Paz e
o Mauricio (que alguns anos depois sofreu um acidente de moto numa trilha e foi
decapitado por um arame farpado ). O Ramon Hollerbach era na época o diretor de atendimento da agência
do Cristiano e do Maurício.
A SMP&B naquele ano ia mal das pernas e a salvação era
vender os jogos à Santa Rosa – tarefa
difícil de enfrentar naquele momento. O
diretor de mkt, o Vicrota, genro do fundador da empresa, acabara de se separar
da filha dele e a confusão estava até nos jornais de BH e Rio, com histórias de
sequestro da neta e uma lavagem de roupa enorme para os costumes de uma família
do interior do estado do Rio, na cidadezinha de Valença.
O fundador da Santa Rosa nos receberia, mas teríamos que
levar o diretor de mercado da Globo Minas, o Sinval de Itacarambi Leão, que,
justamente no dia marcado, tinha sido convidado para um almoço com o então
governador de Minas, Tancredo Neves – ao qual, em hipótese alguma, faltaria. Estávamos
na iminência de ele ser o futuro presidente do Brasil, e o Sinval, como bom
partidário das esquerdas, me disse que eu arrumasse outro dia. Tentamos, mas o
cliente estava cheio de compromissos e aquele dia era perfeito, pois no dia
anterior haveria um leilão de cavalos na fazenda onde o Sr. Santa Rosa iria nos
receber.
Numa sacada rápida, convenci o Cristiano Paz e o Maurício a
alugar um avião, sairíamos de manhã cedinho e entregaríamos o Sinval no palácio
para o almoço, às 12h30min. Eles relutaram, pois estavam sem grana, mas eu os
convenci de que não seria o aluguel de um Comander (nome do avião alugado da Líder
Táxi Aéreo) que iria fazer diferença para quem estava com falta de grana. Se
fechássemos o negócio, os 20% e o BV salvariam a SMP&B.
Quem pode imaginar a agência do mensalão sem grana, em 1985. Quem sabe, se esse negócio não saísse, eles
estariam fora desse imbróglio político em que hoje estão?
Bem, às seis horas da manhã subimos no avião, o Sinval, o Cristiano,
o Ramom, o atendimento, o Rodrigo Simões, e eu. Viagem agradável; descemos no
aeroporto de terra de um quartel do Exército em Valença, e lá já nos esperava
um carro da Santa Rosa.
Desculpe, não me lembro do nome do dono da cidade (rsrsrs...)
, que, naquele dia, estava feliz da vida, havia comprado um cavalo por quinhentos
mil dólares, que era seu sonho de consumo.
Logo que chegamos, lembro-me daquela casa linda e cheia de
quadros de cavalos. Não vimos a compra, mas em sua sala já estava a escultura do
garanhão comprado no dia anterior que o ex-dono deu de presente ao comprador.
Conversamos bastante e em um determinado momento o Sinval
fala do almoço com o Tancredo naquele mesmo dia e da oportunidade de a Santa
Rosa comprar o patrocínio de um evento internacional. Disse que a Globo estava
levando duzentos profissionais e que a cobertura seria um sucesso.
O Sr. Santa Rosa fala de seus problemas sem o mkt e os rolos
que isso estava causando em sua família e em sua empresa. O Sinval compara os
valores do patrocínio com a compra do cavalo na noite anterior.
Em um determinado momento, o Sinval fala que até alugou um
avião para ver seu amigo empresário, coisa que era mentira – quem havia alugado
era a SMP&B.
Tínhamos uma hora “x” para
sair dali, para o avião chegar antes do almoço com o Tancredo. As coisas não
foram fáceis. Não saímos de lá com o patrocínio fechado, ainda sofreríamos dias
para aquilo acontecer.
Foi difícil para os pilotos decolar o avião daquele aeroporto
de terra. Arremetemos umas duas vezes antes de subir.
Na semana posterior, o Cristiano ligava diariamente para o
Sinval. E eu era convocado o dia todo na SMP&B, na sala do Cristiano.
Foram tantas as ligações para Valença que seis dias depois
fechamos o patrocínio do evento. No nacional, só a Santa Rosa (BH) e a Bacardi
(RJ).
O evento para o qual falamos que mandaríamos duzentos
profissionais na maioria das transmissões deixava vazar o off em inglês; os
esportes coletivos do Brasil, vôlei, futebol, basquete, trouxeram quase nada de
medalhas. Um fiasco!
Para o cliente, foi mais ou menos. As audiências foram boas para
a agência e a Globo – uma salvou sua pele e nós batemos a meta.
Como já disse acima, imagine se esse negócio não sai e a
SMP&B quebra! Não haveria mensalão e Marcos Valério, que, naquela época,
devia ser vendedor de imóveis ou coisa assim, nem existiria hoje.
Em 1986, voltei para São Paulo. Nunca mais vi a Santa Rosa no
ar, mas o Cristiano e o Ramon são personagens da história mais negativa da
publicidade brasileira. Estão no Jornal Nacional todos os dias. O Marcos Valério foi publicitário só no
mensalão; antes, ninguém havia conhecido o tal careca.
São deliciosas estas histórias. Parabéns!
ResponderExcluir